29 março 2015






Espaços em branco




Ao fim da noite, no frio do táxi, pousas
a cabeça no meu ombro - e assim entramos
duma vez e inteiramente na nossa vida.
Lá fora, pelo contrário, tudo perde realidade;

há em toda a parte um sossego abstracto,
as ruas parecem pintadas - betão entre
as árvores - numa tela baça. Vamos por lugares
que não reconheço, a minha geografia é vaga

e omissa como a dos velhos cartógrafos
que desenhavam um mundo cheio de espaços
em branco. É onde estamos agora, num
intervalo do mapa rente à primeira manhã -

que será a nossa e também a última.







Rui Pires Cabral






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