03 fevereiro 2015






fábula  do  naufrágio  das  palavras






é no fundo do mar que encontramos as palavras perdidas
tentamos procurá-las, frágeis, nem sempre as descobrimos
nunca nos são fáceis, mesmo quando as julgamos nossas
não lutamos por elas nem contra elas (nunca ganharíamos...)
mas olhamos a página em branco e sabemos como fazer
juntamos uma letra aqui, outra ali, uma palavra após outra
e assustamo-nos por pensar que de nós nasceu um poema


a verdade é que assim que nasceram deixaram de ser nossas
as palavras escreveram-se em cais tristes de navios imóveis
subiram a mastros, olharam o horizonte, desfraldaram velas
e navegaram para além dos nossos pequenos mares fechados
esculpiram-se nas antigas lendas de névoas e ilhas encantadas
foram cantadas por sereias temidas e ansiadas por navegantes
e um dia esqueceram-se de quem eram e por fim naufragaram


depois, é no fundo do mar que encontramos as palavras perdidas








6 comentários:

  1. Ando a precisar de mergulhar mais fundo :)
    é lindo :)

    ResponderEliminar
  2. Parece que é sempre assim: mal nascem, as palavras deixam de nos pertencer.
    Bonita fábula, José Luís!
    (Já viu como o seu mar tem coisas tão estranhas, quanto maravilhosas?;)

    ResponderEliminar
  3. É como saltitar numa corda esticada por cima de um rio.
    Quando é que o menino publica? ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. quando aprender, M., quando aprender a escrever… ;)

      Eliminar

cartografe aqui: