24 fevereiro 2015







fábula  das  palavras  submersas






submersa a minha voz não pode mais querer cantar palavras náufragas
o peso das águas tornou-a rouca e emudeceu-a presa ao fundo do mar
submersa a ideia de escrever poemas com o fulgor de um canto náutico
letras e frases que no papel içavam âncora e desfraldavam todas as velas
submersa a busca dessa tua palavra de doces pétalas infinitas e circulares
mais bela que a flor afagada pela rosa dos ventos que agora uivam mudos


e se a escrita mais não fosse que o prolongar de um olvido em silêncio
se as palavras não quisessem mais ser pronunciadas pelo eco das vozes
e pedissem para ser escritas pelas mãos dos que as irão decerto esquecer?
saberão elas que nem sempre sei o que escrevo nem escrevo o que sei
e que a sua canção começa numa folha em branco e segue as gaivotas
até à foz de um rio de águas imóveis que não nasce nem pode desaguar?







6 comentários:

  1. vou roubar para a minha tasca. gostei tanto. tanto quanto as sinto como minhas sem ser a sua autora. :)

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  2. Confesso que li várias vezes. Mas por bons motivos. Acho;)
    E fiquei a pensar muito nisto que já anda há algum tempo a atacar os meus neurónios:
    - Será que quem escreve sem ser por obrigação o faz mais com o propósito de segurar as palavras que ficaram no silêncio por não as conseguir pronunciar, ou se é para eternizar algo que disse e que considera importante até pelo respeito que tem a quem as dirigiu?
    Mas, olhe, que gosto mesmo muito desta sua fábula, talvez uma das melhores (já é difícil avaliar!) e acho que combina muito bem com aquele quadro que estou prestes a roubar;)

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  3. Escrever porque sim. Porque apetece. Porque ajuda a arrumar ideias. Porque gostamos da partilha. Porque as palavras ganham vida nos olhos de quem lê.
    As tuas fábulas fazem -me navegar. E eu gosto tanto :)
    Beijos JL

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