19 dezembro 2014






Livro de água




Fecho as páginas da noite. E
um livro de luz fica-me nas mãos,
queimando-me os dedos e os olhos
com o seu quente fulgor.

Ponho esse livro numa estante
lacustre. As suas folhas cobrem rãs
e nenúfares; e a música da água
inunda-o, apagando o seu fogo.

Ninguém sabe o que está nesse
livro; que obscuras frases o enchem
de inquietação; que luminosas
conclusões o libertam de sombra.

Busco o enigma do seu título
- exíguo retrato de um rosto
passado, em cujo rasto me perco,
engano de rumo nas entranhas
do nome.







Nuno Júdice





4 comentários:

  1. Ah, gostei tanto! Se calhar, todos temos um livro de água e nem sempre reparamos... O Nuno Júdice escreve muito bem.
    Bom, eu tenho poucos conhecimentos musicais, mas vou arriscar a sugestão de uma banda sonora para este poema e que já passou neste mural: "In Water", de Roger Eno. E que tal?
    Bom fim-de-semana.

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