02 dezembro 2014







fábula  de  um  amor  antigo






nem a suave recordação nem o tranquilo desespero
tomaram conta de mim, apenas essa lembrança tua,
e depois pensei num soneto de amor antigo e perene
um daqueles amores que já não há mas devia haver

sabes, não sei se o nosso amor era mesmo tão assim
de paixão eterna com todos os adjectivos habituais
ou se apenas já não sabíamos como viver sem ele
e a ele nos habituámos sem nos acomodar também

embora ele nos fosse cómodo e acolhedor e sereno
e dele tivéssemos sempre feito um porto de abrigo
onde amarrar o cansaço da vida e ancorar a mágoa 

penso muito nisso e tento juntar letras para o esquecer
mas só agora, mesmo no fim deste soneto, me apercebo
de que o nosso amor era no fundo mais antigo que nós







5 comentários:

  1. José Luís, eu não queria ficar apenas por um "Ah, tão lindo!", "Bonito, mesmo", etc., embora seja tudo isso. Confesso ser difícil juntar letras(!) para o felicitar. Uma das melhores fábulas que escreveu nesta parede.
    Olhe, gosto porque é, ao mesmo tempo, forte e doce. E, para além de muito bem escrita, tem "informação" aparentemente contraditória e por isso dá que pensar mais. Por exemplo, admitir que a paixão, ainda por cima eterna, se conjuga com o hábito que, também ainda por cima, não incomoda.
    E a foto é mais-que-perfeita(!) para enfeitar a história!
    Parabéns!
    Não se acanhe que a "Renova" continua em alta no fabrico de guardanapos de papel;)))

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  2. mais uma vez: tão bonito. há qualquer coisa de tão tranquilo nestas fábulas.

    :)

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  3. Estás a derreter os coraçõezinhos destas meninas, oh Zé Luís! :P

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