16 dezembro 2014







fábula  das  palavras  cada  vez  mais  curtas





e depois a gaivota voa sobre o lamento do cais e de novo relembro a noite em que partiste
num orgulho de caravela em busca de uma pérola que se sabia impossível de colher
vogando na pele do oceano sem ler mais cartas de marear escritas nas estrelas
descobrindo na obscuridade o brilho da ária secreta da solidão das águas
e como este meu porto deixou de ser de abrigo para a nossa voz


mas nem essa recordação mantém o mesmo eco
pois sinto as palavras cada vez mais curtas
e já só queria lembrar-me desse mapa
navegar à deriva pelo teu corpo
percorrer os teus rumos
invadir o teu mar
rasgar o azul
sempre
tu





4 comentários:

  1. Olha, esta está boa: o José Luís anda a brincar à geometria com as palavras;) Só para confirmar, e mesmo que me chamem muito burra: é um triângulo rectângulo invertido, não é?
    Para além de ser agradável à vista, esta história irradia tranquilidade. Apesar do lamento trazido por essa gaivota teimosa que, pouco a pouco, obriga a engolir as palavras que não é preciso dizer.
    Gostei tanto que a minha cleptomania já está a pular de contente;)

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    1. geometria invertida?! credo, isabel, são apenas palavras cada vez mais curtas ;)

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  2. que saudades das fábulas de marear, gostei muito; e que bonito o desenho do poema visual, uma vela ou uma asa de anjo, que tudo o vento leva.

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