Requiem por um pássaro e um autocarro perdido
Mais um dia
em forma de
pássaro morto.
Uma amálgama
ainda quente
da manhã que
nasce, espécie de beleza
desmanchada
a que nem o nosso olhar
consegue
servir de pietà. O vento
teima em
agitar uma ou outra pena,
mas não há
golpe de asa que o arranque
agora ao
asfalto negro.
Partilhamos,
no fundo, a impotência:
o destino
que o esmagou
é o mesmo
que esperamos para
embarcar sem
surpresas, sem direito a atrasos.
A essa
indiferença cansada prefiro
a do outro
pássaro que, lá muito em cima,
hoje ainda
mais, refaz a traços negros
a vida. É
por esses instantes
de voo que
aceito continuar a perder.
Inês Dias
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