26 setembro 2014






Como um barco amarrado ao cais





Como um barco amarrado ao
cais, assim estou eu. Quero perder-me
entre ondas e marés, deixar que me
levem, não ter de decidir. Quero
que o sal me macere a pele e o
sol me doire e eu deixe de ser
como sou. Quero que a água me
lave por dentro e a espuma escorra
pelos meus dedos. Quero afogar-me
em silêncio e vazio. Que caiam as pontes,
que as margens se afastem até ao
infinito e eu não tenha como voltar. Se
perder os remos, melhor, não sei nadar e
ali me perco, sem vontade de me
encontrar. Preciso largar-te na
profundidade dos abismos, bater contra
as rochas e naufragar.









Carla Pinto Coelho







6 comentários:

  1. Mais um bonito poema da Carla;)
    E essa ideia de "querer que a água me lave por dentro " anda muitas vezes pelas minhas bandas.

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  2. Caramba, Carla, isto é lindo! Uma pessoa embrenha-se e deixa-se ir nesse barco à deriva...
    Gostei muito!
    (obrigada por partilhar, josé luís)

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  3. Sou uma energúmena de corpo inteiro -- há que admiti-lo! Tenho desde dia 26 um separador aberto nesta mensagem para partilhar a música que, no fundo, inspirou este poema. Digamos que foi uma combinação de música+video clip+vontade de naufragar.

    https://www.youtube.com/watch?v=2CZ8ossU4pc

    Vocês são tão gentis que me apetece mandar uma caixa de pastéis de Tentúgal a cada um. (((:

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    Respostas
    1. para mim a banda sonora é esta:
      http://youtu.be/Lr8ZWXl_QoE
      (…e podes mandar os pastéis)

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  4. Eu acho que somos mesmo barcos amarrados ao cais, de uma forma ou de outra :)
    (Ah, que já estava saudosa de passar por cá!)

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cartografe aqui: