Parábola das mãos
Esta mão
pega num fruto,
A outra
afasta-o.
Uma mão
recebe o falcão, tira uma luva,
A outra
afugenta-o, pega numa tocha.
Uma mão
escreve cartas de amor
Que a sua
equívoca siamesa enche de injúrias.
Uma mão
bendiz, a outra ameaça.
Uma desenha
um cavalo,
A outra, um
puma que o assusta.
Pinta um
lago a mão direita:
Afoga-o num
rio de tinta, a esquerda.
Uma mão
desenha a palavra pássaro,
A outra
escreve a sua jaula.
Há uma mão
de luz que constrói escadas,
Uma sombra
que solta degraus.
Mas chega a
noite. Chega
Quando
cansadas de se agredir
Fazem
trégua na sua guerra
Porque
procuram o teu corpo.
Juan Manuel
Roca
A reconciliação das mãos que só o corpo desejado consegue.
ResponderEliminarBelíssimo! Obrigada pela partilha!
;)
EliminarMais um poema brilhante de Juan Manuel Roca.
ResponderEliminarTalvez preferisse ter agarrado apenas a parte mais leve, doce e bonita. Não fui capaz. Para mim é muito óbvia a analogia com a capacidade de o ser humano, mesmo a uma nesga de distância temporal, intercalar a prática do bem com os feitos mais escabrosos. Muitas vezes sem uma "explicação satisfatória".
Assim como gosto de ver nesta parede os quadros com formas, palavras e sons divertidos, aprecio as telas que me fazem pensar bastante nas coisas que estão para além dos gestos quotidianos.
E hoje este exercício ajudou-me a ficar melhor;)
Bom fim-de-semana, José Luís!
:) bom fim de semana
EliminarTão lindo! Ao ler, pensava estar perante mais uma das suas parábolas. É que parece sua, de tão boa.
ResponderEliminarAbraço.
tão lindo não podia ser meu ( e as minhas são meras fábulas, não parábolas deste calibre ;) )
EliminarPois é, são fábulas, tem razão. Mas mantenho o que disse, é tão boa que parecia sua. :-)
Eliminar;)
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