na
raiz dos sonhos
sei que aquela oliveira está ali
desde o princípio do mundo, habitando o tempo
e enredada no tempo à tua espera.
sei que as nuvens são de lilás escurecendo e resolvem
passar em ronda lenta nas fronteiras já imperceptíveis
do pôr do sol. sei que pressentes que assim terá de ser.
sei que ouvimos o sopro irregular do que diz o noroeste
de sílabas salinas, prolongando os búzios e as ressonâncias
onde ecoa o mar, enquanto a cor das nuvens
for passando morosa do lilás às madrepérolas da noite
e nós dermos as mãos nesse silêncio atlântico. e ainda sei que o vento
se arrepia ao de leve convocando os deuses comovidos
para essa árvore sagrada em que estremece
uma folhagem verde-cinza de estrídulas cigarras
que a acompanham desde o quente começo do mundo,
deste mundo, teu e meu, agora descoberto, ou a reinventar
numa sageza ainda assim sobressaltada,
numa ternura à beira da incandescência,
num princípio de pura alegria a que iremos dando vários nomes,
coisas da alma empenhada na sua liberdade
e em fantásticas lunações e trepadeiras.
sei como sobem jasmins e madressilvas
e as essências do verão em seus caules delicados
emaranhando-se nos sonhos, na raiz crepuscular
e musical dos sonhos. sei que te encontro aí.
Vasco
Graça Moura
Li o poema várias vezes. Parece que, a cada leitura, se descobre qualquer coisa.
ResponderEliminarNos sonhos tudo é possível. Mas é preciso saber sonhar;)