29 julho 2014





fábula  do  fundo  dos  teus  olhos





sabes, houve um tempo em que os teus olhos eram todo o meu mar
olhava para o fundo dos teus olhos e nunca via o que não podia ser
o que busco nestas águas e sei não estar escrito em cartas de marear
o brilho do sol sobre o salpico de espuma no vento que enfuna a vela
olhava para o fundo dos teus olhos e apenas via o que não podia ter
um mastro erguido contra a solidão na breve leveza da âncora içada


mas ontem olhei para os teus olhos e não vi senão o fundo dos meus







9 comentários:

  1. José Luís, não me canso de ler as suas fábulas. Acabou de formar um blue mais que perfeito. :-)))

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  2. Olhar dentro, no fundo de tudo e encontrar quem nos vê e quem nos sente. Nem tudo está escrito nas cartas de marear... nem tudo :)
    Um beijo JL :)

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  3. Não é demais repetir que as suas fábulas são deliciosas!
    Para mim, esta história é uma das melhores que o José Luís publicou no mural. E julgo que esta minha opinião está relacionada com o facto de "cruzar" muito bem as referências aos olhos com o mar, com as cartas náuticas e com o rasgar da solidão.
    Aprecio particularmente as fábulas em que referencia os olhos. Fá.lo muito bem. De forma cativante porque se percepciona que o olhar e os olhos que descreve são muito sentidos por si.
    Parabéns! (E acho que vou roub@ar;))

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  4. este texto ficava lindo, dito em teatro.

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  5. Linda esta fábula e só pelo título fez-me logo lembrar uma música do chico :
    "olhos nos olhos quero ver o que você faz
    ao sentir que sem você eu passo bem demais E que venho até remoçando
    Me pego cantando
    Sem mais nem porquê
    E tantas águas rolaram
    Quantos homens me amaram
    Bem mais e melhor que você
    Quando talvez precisar de mim
    Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
    Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
    Quero ver como suporta me ver tão feliz"

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