13 junho 2014


[ festeja hoje cento e vinte e seis risonhas primaveras fernando antónio, um dos inúmeros irmãos pessoa ]









Os cinco enterros de Pessoa






Poucas vezes sucede
Que ao morrer um poeta
Sejam necessários cinco caixões.
Como poucas vezes sucede
Que um poeta seja morada
Para que nele vivam,
Para que trabalham à sua vontade
E durmam quando quiserem,
Sem pagar renda,
Sem ameaças do senhorio,
Outros 4 poetas.
Ao enterro de Pessoa
Foram com sigilo,
Tal como viveram.
Nunca protestaram
Contra a estreiteza da sua moradia,
Esse peculiar viver dentro da gabardina.
Mas não desejariam mais espaço
Agora, na rigidez das formas?
Não se viu Pessoa em tertúlia
Com os seus 4 fantasmas cardinais.
Não se viu em grupo
A caminho da tabacaria,
Partilhando viuvezes.
Pessoa e os seus compadres.
E essa forma
De não se deixarem ver nos espelhos.









Juan Manuel Roca








2 comentários:

  1. Retrato tão bem desenhado.
    Juan Manuel Roca nunca brinca em serviço;)

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  2. É verdade, josé luís, lembra muito bem, hoje seria o aniversário de Fernando Pessoa.
    Seria, não, é. Mesmo com 5 caixões ele não morreu.
    Abraço e bom dia! :-)

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