23 maio 2014








soneto do amor e da morte







quando eu morrer murmura esta canção 

que escrevo para ti. quando eu morrer 

fica junto de mim, não queiras ver 

as aves pardas do anoitecer 

a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha mão, 

põe os olhos nos meus se puder ser, 

se inda neles a luz esmorecer, 

e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer, 

sempre a doer de tanta perfeição 

que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater, 

quando eu morrer segura a minha mão.










Vasco Graça Moura








3 comentários:

  1. Este apaziguamento deveria estar presente na relação que estabelecemos com a morte, com a nossa e a dos outros. Ainda ontem alguém me falava do bem-estar que sentiu por conseguir acompanhar os últimos momentos de duas pessoas que amava. Quando a nossa tendência parece ser a de evitar o confronto com a dor de partir, ouvir essas experiências e ler este poema do VGM, pode fazer-nos reconfigurar uma série de coisas sobre o sentido que queremos para a nossa vida. Prefiro aqui acrescentar também a morte enquanto metáfora. É igualmente importante aprender a lidar com ela.
    É um dos poemas mais bonitos do VGM.
    Isabel Pires

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  2. Gostava de poder ser assim tão linear e de conseguir aceitar as "partidas" :))

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