fábula da primeira vez
numa
idade em que a música popular nos ocupa muita atenção, ela era diferente. não
sabia nada dos grupos rock que idolatrávamos e só se interessava por música
clássica. para além do liceu estudava também no conservatório, tinha um olhar
misterioso e sabia tudo sobre história de arte. ouvia (mesmo) música contemporânea,
e falava de dodecafonia e serialismo, palavras que eu nunca tinha ouvido. foi
em casa dela que conheci cage e stockhausen (uma epifania). era tão diferente
das outras raparigas que creio ter sido essa – para além do abismo daqueles
olhos – uma das razões que me levou a querer conhecê-la melhor. ficámos amigos
e com o tempo algo mais. uma tarde em que era suposto estarmos a estudar no seu
quarto, cedemos à preguiça. ela foi à estante, tirou este album e
pô-lo a tocar no gira-discos. deitados na cama a olhar para o tecto, ficámos a
ouvi-lo de mãos dadas. e alguns minutos depois a minha primeira vez tinha
acontecido. nem sempre sucede associada a uma música – mas por vezes sim. uma
amiga confessou-me que, no seu caso, estava a tocar o “whiter shade of pale”. e
um colega referiu o “riders on the storm” (grande escolha, por sinal).
só não conheço mais ninguém que tenha por banda sonora da primeira vez o quinteto para clarinete de mozart.
só não conheço mais ninguém que tenha por banda sonora da primeira vez o quinteto para clarinete de mozart.
A minha foi ao som do Bolero de Ravel. A sua teve muito mais classe. :))))
ResponderEliminarQue história!
ResponderEliminarBonita, forte, ternurenta... Apetece ler com cuidado com medo de estragar alguma coisa. E para beber tudo.
Muito bom, José Luís!
Isabel Pires
;)
EliminarLembro-me do Stairway to Heaven... passou tanto tempo :):):)
ResponderEliminarLikndo texto JL. A música complementa na perfeição.
Beijo
;)
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