fábula do rio que não corre pela minha aldeia
o tejo é mais belo que o rio que corre pela minha
aldeia,
mas o tejo não é mais belo que o rio que corre
pela minha aldeia
porque na minha aldeia não
corre o tejo nem rio nenhum
o tejo tem grandes navios e navega nele ainda a
memória das naus
mas no rio que não corre pela minha aldeia só
navegam náufragos
toda a gente sabe que o tejo desce de espanha e
entra no mar em portugal
mas ninguém sabe que não há nascente nem foz no
rio da minha aldeia
e porque pertence a menos gente prende muito mais gente
essa ideia de um rio que nunca corre pela aldeia
de cada um
pelo tejo vai-se para a ilusão vã dos reinos da
pimenta do ouro e da glória
mas ninguém pensa no que não corre para além do
rio da minha aldeia
é que o rio que não corre pela minha aldeia não
faz pensar em mais nada
quem está ao pé dele está só ao pé de si mesmo e sempre a pensar no tejo
[ publicada com o devido pedido de desculpas ao senhor engenheiro ]
ResponderEliminarE o que não vale ter esse momento de solidão :)
Eliminaruma explicação: a verdadeira fábula do rio que corre pela minha aldeia é de alberto caeiro, o mais velho dos irmãos pessoa. no entanto, sempre achei que ela deveria ter sido escrita por álvaro, um dos irmãos mais novos que, como é sabido, nos falou mais sobre cais e navios, talvez por ser engenheiro naval, numa estranha licenciatura obtida em glasgow. peço-lhe desculpa por pensar vaidosamente que esta poderia ter sido uma brincadeira-resposta por ele escrita ao irmão mais velho.
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