23 abril 2014








fábula  do  rio  que  não  corre  pela  minha  aldeia






o tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, 
mas o tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia 
porque na minha aldeia não corre o tejo nem rio nenhum

o tejo tem grandes navios e navega nele ainda a memória das naus
mas no rio que não corre pela minha aldeia só navegam náufragos

toda a gente sabe que o tejo desce de espanha e entra no mar em portugal
mas ninguém sabe que não há nascente nem foz no rio da minha aldeia
e porque pertence a menos gente prende muito mais gente
essa ideia de um rio que nunca corre pela aldeia de cada um

pelo tejo vai-se para a ilusão vã dos reinos da pimenta do ouro e da glória 
mas ninguém pensa no que não corre para além do rio da minha aldeia

é que o rio que não corre pela minha aldeia não faz pensar em mais nada 
quem está ao pé dele está só ao pé de si mesmo e sempre a pensar no tejo









3 comentários:

  1. [ publicada com o devido pedido de desculpas ao senhor engenheiro ]

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    1. E o que não vale ter esse momento de solidão :)

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    2. uma explicação: a verdadeira fábula do rio que corre pela minha aldeia é de alberto caeiro, o mais velho dos irmãos pessoa. no entanto, sempre achei que ela deveria ter sido escrita por álvaro, um dos irmãos mais novos que, como é sabido, nos falou mais sobre cais e navios, talvez por ser engenheiro naval, numa estranha licenciatura obtida em glasgow. peço-lhe desculpa por pensar vaidosamente que esta poderia ter sido uma brincadeira-resposta por ele escrita ao irmão mais velho.

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