(…)
Ah, a frescura das manhãs em que se chega,
Ah, a frescura das manhãs em que se chega,
E a palidez
das manhãs em que se parte,
Quando as
nossas entranhas se arrepanham
E uma vaga
sensação parecida com um medo
- O medo
ancestral de se afastar e partir,
O misterioso
receio ancestral à Chegada e ao Novo -
Encolhe-nos
a pele e agonia-nos,
E todo o
nosso corpo angustiado sente,
Como se
fosse a nossa alma,
Uma
inexplicável vontade de poder sentir isto doutra maneira:
Uma saudade
a qualquer coisa,
Uma
perturbação de afeições a que vaga pátria?
A que costa?
a que navio? a que cais?
Que se
adoece em nós o pensamento,
E só fica um
grande vácuo dentro de nós,
Uma oca
saciedade de minutos marítimos,
E uma
ansiedade vaga que seria tédio ou dor
Se soubesse
como sê-lo…
(…)
(…)
Álvaro de Campos
(in Ode Marítima)
[ acabado de ouvir no São Luiz, numa grande encenação ]
'Uma perturbação de afeições a que vaga pátria', a arte de não voar, 'sem pé na terra/sem pé no mar/com pé no ar' e arte de marear.
ResponderEliminarah Joana...
ResponderEliminaro problema é que todo o vapor ao longe é um barco de vela perto… e todo o cais é uma saudade de pedra!… ;)
(obrigado pela visita)