05 março 2014









(…)
Ah, a frescura das manhãs em que se chega, 

E a palidez das manhãs em que se parte, 

Quando as nossas entranhas se arrepanham 

E uma vaga sensação parecida com um medo 

- O medo ancestral de se afastar e partir, 

O misterioso receio ancestral à Chegada e ao Novo - 

Encolhe-nos a pele e agonia-nos, 

E todo o nosso corpo angustiado sente, 

Como se fosse a nossa alma, 

Uma inexplicável vontade de poder sentir isto doutra maneira: 

Uma saudade a qualquer coisa, 

Uma perturbação de afeições a que vaga pátria? 

A que costa? a que navio? a que cais? 

Que se adoece em nós o pensamento, 

E só fica um grande vácuo dentro de nós, 

Uma oca saciedade de minutos marítimos, 

E uma ansiedade vaga que seria tédio ou dor 

Se soubesse como sê-lo… 
(…)








Álvaro de Campos
(in Ode Marítima)











[ acabado de ouvir no São Luiz, numa grande encenação ]

2 comentários:

  1. 'Uma perturbação de afeições a que vaga pátria', a arte de não voar, 'sem pé na terra/sem pé no mar/com pé no ar' e arte de marear.

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  2. ah Joana...
    o problema é que todo o vapor ao longe é um barco de vela perto… e todo o cais é uma saudade de pedra!… ;)
    (obrigado pela visita)

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