11 fevereiro 2014










fábula  do  auto-retrato  a  sépia








dirão os leitores mais avisados, os que chegarem ao fim destas linhas
que jamais conseguiria este falso efabulador auto-retratar-se a sépia
por tal ser uma impossibilidade, um conjunto vazio, um nada, népia
e apenas houve uma tentativa de engano com imagens mesquinhas:
diz-se como o poeta da altura do que os seus olhos vêem no mundo
e confessa ser um homem da ciência mas ter pelas letras um amor
visceral e não saber o que fazer com e sem elas, um medo profundo
tem depois o desplante de tentar brincar com o que sabe serem tretas
pois a sério afirma ter o cabelo todo branco e fazer nuances pretas
como se fosse possível encobrir com rimas parvas e duvidoso humor
mágoas que sente pelo envelhecimento de um corpo só, que diz não
a um espírito sempre jovem e ao seu ainda vivo e inexperiente coração
refere gostar de viver para sempre num lugar que fosse perto do aqui
e agora, numa casa feita de livros com janelas de palavras ditas sem voz
e vai naquele antigo caderno de todos os barcos do tejo à procura de si
mas sabe no seu íntimo nada mais ser que um rio sem nascente nem foz
confirma estar refém de um mundo só seu, repleto de fábulas e fantasias
sobre gente da música que considera os seus heróis, e escritores que assim
o inspiram a juntar frases, para que algo de seu perdure para além do fim
e que também não acredita em deus, mas lhe pede pelos filhos todos os dias









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