fábula do auto-retrato a sépia
dirão os leitores mais avisados, os que chegarem
ao fim destas linhas
que jamais conseguiria este falso efabulador
auto-retratar-se a sépia
por tal ser uma impossibilidade, um conjunto
vazio, um nada, népia
e apenas houve uma tentativa de engano com
imagens mesquinhas:
diz-se como o poeta da altura do que os seus olhos
vêem no mundo
e confessa ser um homem da ciência mas ter pelas
letras um amor
visceral e não saber o que fazer com e sem elas, um
medo profundo
tem depois o desplante de tentar brincar com o que
sabe serem tretas
pois a sério afirma ter o cabelo todo branco e fazer
nuances pretas
como se fosse possível encobrir com rimas parvas e
duvidoso humor
mágoas que sente pelo envelhecimento de um corpo só,
que diz não
a um espírito sempre jovem e ao seu ainda vivo e
inexperiente coração
refere gostar de viver para sempre num lugar que
fosse perto do aqui
e agora, numa casa feita de livros com janelas de
palavras ditas sem voz
e vai naquele antigo caderno de todos os barcos do
tejo à procura de si
mas sabe no seu íntimo nada mais ser que um rio sem
nascente nem foz
confirma estar refém de um mundo só seu, repleto de
fábulas e fantasias
sobre gente da música que considera os seus heróis, e escritores que
assim
o inspiram a juntar frases, para que algo de seu perdure para além do
fim
e que também não acredita em deus, mas lhe pede pelos filhos todos os
dias
Gostei deste auto-retrato.
ResponderEliminarBoa semana. :)
;) boa semana
Eliminarperfeito
ResponderEliminaroh... ;)
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