28 fevereiro 2014










“Me he despertado sintiendo que la angustia se abría paso entre mis huesos y remontaba por las venas hasta que se abría mi piel. Ha sido un horror semejante despertar. Para ahuyentarlo cuanto antes de mi mente, he ido a buscar el Libro del desasosiego, de Fernando Pessoa. Me ha parecido que, por muy duro que fuera el fragmento que encontrara al azar abriendo el angustioso diario de Pessoa, siempre sería inferior en dureza - seguro - al horror con el que me he despertado. Siempre me ha funcionado bien este sistema de viajar a la angustia de otros para rebajar la intensidad de la mía.”









Enrique Vila-Matas

(in Bartleby y compañía)












decepcionante. é a palavra que melhor descreve a minha expedição emocional ao planeta vermelho. aquelas fotografias publicadas pela n.a.s.a. bem me tinham avisado... mesmo assim percorri montanhas e vales, procurei em vão a minha esperada marcianita em desertos áridos e secos: apenas o silêncio na solidão do cosmos. dizem-me que o importante é combater o desânimo e nunca ceder ao desencanto. assim sendo, prolongando a busca em planetas ainda relativamente próximos, creio que o seguinte – e este aparentemente promissor – vai ser... vejamos



A Goddess on a mountain top

Was burning like a silver flame

The summit of beauty and love

And Venus was her name
She's got it 

Yeah, baby, she's got it

Well, I'm your Venus

I'm your fire, at your desire

Her weapons were

Her crystal eyes

Making every man mad
Black as the dark night she was

Got what no-one else had
She's got it
Yeah, baby, she's got it
Well, I'm your Venus,

I'm your fire, at your desire









[homenagem a mariska veres. cantava como só ela sabia. não bebia, não fumava, nunca tomou drogas. venceu a batalha contra um cancro, partindo para outro planeta em 2006]













[jardins gulbenkian]










27 fevereiro 2014







Isto não é um poema





O mar Mediterrâneo nunca foi o nosso mar.
Mediterrânicos de tez ou de tom,
nunca deixamos de ter na pele
este ar ácido do Atlântico,
que sempre nos leva para longe de nós próprios
e dos nossos próprios mares.

Tenho pensado nisso desde que vim de Marselha
e das suas ruas cruzadas de povos
vindos de todo este antigo lago mediterrânico,
que tornamos em cemitério quando foi mare nostrum
e teatro de batalhas em Lepanto,
antes deste hipócrita deixar morrer
ao largo de Lampedusa.

Isto não é um poema? Pois não.
Talvez seja o cachimbo de Magritte
embrulhado num jornal de hoje.









Luís Filipe Castro Mendes






















reclining figure: arched leg 4/6
henry moore









26 fevereiro 2014







dizem-me que desapareceu hoje um dos membros deste trio. 
claramente, mais um exagero...



Francisco Sánchez Gómez, a.k.a. Paco de Lucía
(1947-2014...(...













os wild ones lançaram originalmente a canção em 1965, mas foi no ano seguinte que se popularizou, com a versão wilder dos troggs. adoptada mais tarde pela geração hippie e pelo mundo rock, rapidamente ganhou contornos icónicos. 
foi incluída na banda sonora de “something wild”, um road movie de jonathan demme com um dos happy end mais originais de sempre. e o desafio é esse:






d e s c u b r a
a s
s e t e
d i f e r e n ç a s :





entre a coisa selvagem


a) dos irmãos troggs


e

b) da irmã carol



Wild thing, you make my heart sing...
You make everything
Groovy
I said wild thing...

Wild thing, I think I love you
But I wanna know for sure
Come on, hold me tight
I love you

Wild thing, you make my heart sing...
You make everything
Groovy
I said wild thing...

Wild thing, I think you move me
But I wanna know for sure
So come on, hold me tight
You move me



















[montras de lisboa]









25 fevereiro 2014








fábula  anónima








antes que as palavras se escrevam em ti
não desenhes letras que nem sabes apagar.
o teu anjo da guarda vai fazer de ti um livro,
narrar-te uma história há muito pensada mas
inaudita: a tua vida por inscrever, em frases
mágicas e breves, possíveis ou não, ditadas
antes que essas palavras se escrevam por si.

diluída num texto sentes não ser já a mesma,
o ritmo das sílabas não é o teu, enganaram-
se e trocaram os livros, jamais te leriam assim.

e no entanto, quando sonhas, podias ser:
ninguém te conhece como tu, nem anjos
esperam que haja amor nos teus poemas
sem que as palavras se escrevam por ti.










[um acróstico mais-que-devido]













les amants
rené magritte









24 fevereiro 2014









este é um azul escrito pelo grande robert johnson e que eric clapton toca quase sempre nos seus concertos.
gosto desta cover, em que aquela little band from texas abrevia a letra mas inclui um coro com piada. 
e ouvir zz top é sempre reconfirmar que aquelas barbas são como o vinho do porto.




Every time I'm walkin' down the street

Some pretty mama start breakin' down with me
Stop breakin' down,
please, stop breakin' down

Stuff I got to bust your brains out, baby

Ooh, it'll make you lose your mind
I can't walk the streets now to consulate my mind

Some pretty mama starts breakin' down
Stop breakin' down,
please, stop breakin' down

Stuff I got to bust your brains out, baby

Ooh, it'll make you lose your mind
Now, you Saturday night women, you love to ape and clown

Won't do nothin' but tear a good man reputation down
Stop breakin' down,
please, stop breakin' down

Stuff I got to bust your brains out, baby
Ooh, it'll make you lose your mind
Well, I give my baby the ninety-nine degrees
She jumped up and throwed a pistol down on me
Stop breakin' down,
please, stop breakin' down

Stuff I got to bust your brains out, baby

Ooh, it'll make you lose your mind
Well now, I can't start walkin' down the streets

Some pretty woman start breakin' down with me
Stop breakin' down,
please, stop breakin' down
Stuff I got to bust your brains out, baby
Ooh, it'll make you lose your mind




















[ruas de lisboa]











23 fevereiro 2014








Amo-te sem saber como






Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou seta de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te directamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.










Pablo Neruda





















isabella rossellini + david lynch
helmut newton


















não deixou de me surpreender o meu americano tranquilo. 
mas foi um dos concertos que guardarei para sempre.




You used to take me up
I watched and learnt how to fly
No navigation system beyond our eyes
Watching

I always went wrong in the same place
Where the river splits towards the sea
That couldn’t possibly be you and me

Sometimes you sleep while I take us home
That’s when I know we really have a home

I never like to land
Getting back up seems impossibly grand
We do it with ease

Danger, I never think of danger
I really am a lucky man
I really am a lucky man
Flying this small plane

I like it when I take the controls from you
And when you take the controls from me

I really am a lucky man
I really am a lucky man
Flying this small plane

I scan the path
Ahead and all around









22 fevereiro 2014








algo





noche que te vas
dame la mano

obra de ángel bullente
los días se suicidan

¿por qué?

noche que te vas
buenas noches









Alejandra Pizarnik



















O Röschen rot,
Der Mensch liegt in größter Not,
Der Mensch liegt in größter Pein,
Je lieber möcht' ich im Himmel sein.
Da kam ich auf einem breiten Weg,
Da kam ein Engelein und wollt' mich abweisen.
Ach nein, ich ließ mich nicht abweisen!
Ich bin von Gott und will wieder zu Gott,
Der liebe Gott wird mir ein Lichtchen geben,
Wird leuchten mir bis an das ewig selig' Leben!










21 fevereiro 2014









É apenas o começo. Só depois dói,
e se lhe dá nome.
Às vezes chamam-lhe paixão. Que pode
acontecer da maneira mais simples:
umas gotas de chuva no cabelo.
Aproximas a mão, os dedos
desatam a arder inesperadamente,
recuas de medo. Aqueles cabelos,
as suas gotas de água são o começo,
apenas o começo. Antes
do fim terás de pegar no fogo
e fazeres do inverno
a mais ardente das estações.











Eugénio de Andrade
























homme s'essuyant la jambe
gustave caillebotte