Os conjurados
Estamos do lado errado. Outra
vez.
Fomos esquecendo as senhas
que nos abriam a solidão e o
espanto.
Crescemos baços, cansados,
estrelas
frias mas longe da onda que virá
lavar o sangue do sacrifício.
E mais facilmente cruzávamos
espelhos, muros, desamores
do que atravessávamos esta rua
ou restaurávamos agora
a independência das nossas
almas.
Talvez se consiga ainda exumar,
na nossa arqueologia de
sobrevivência,
uma dessas palavras latentes
para oferecer a um poeta -
apenas significante, já tão
pouca flor.
Esperaríamos depois,
ao redor da cama de um de nós,
que esse gesto perturbasse
destinos,
acordasse motins serenos, fosse
o grão
de pólen no mecanismo sensível
do mundo.
Inês Dias
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