fábula do navio fantasma (*)
libertar-me
da âncora consciente que me segura a mim
partir hoje
mesmo, errante e imóvel no meu sonho inerte
correr os sete
mares como quem se desvenda com o olhar
desfraldar cada
vela enquanto aos poucos me percorresse
defrontar a
bruma que enfrento na minha própria névoa
abandonar-me ao
sabor das vagas que vogam cá dentro
gritar de medo
na tempestade do vago receio de me temer
afundar-me
comigo na memória e vir de novo à tona em mim
não me sentir
este navio apodrecido, preso ao cais que vou sendo
(*) dedicada a cento e trinta e sete dos irmãos pessoa,
que aqui não nomeio por manifesta exiguidade deste mural
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