Ontem adormeceste, ainda
tínhamos as facas todas na boca
e três por abrir.
Ficou uma pousada
em equilíbrio geométrico
na linha dos lábios.
Não sei de quem eram
esses lábios de onde
o gume imóvel não deixava sair
as palavras duras
e, mais tarde, os pesadelos.
Outra, o cabo na minha mão,
esqueci-a antes da última
costela flutuante
depois do coração.
De manhã éramos só nós, frios,
e a memória das cinzas na rua.
A terceira foi como se nunca tivesse existido.
Margarida Ferra
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