alforria blues
aceitei que o mar é a única
escrita que existe, antes disso
tinha firmado o corpo todo
dentro dele até a cintura
sentia o bom sentir que é só
sensação
o coração muito arraigado e
estriado
o coração como uma batata
crescendo na terra
tão contente que desconfiava
dos vaticínios, dos oráculos,
dos conselhos, dos pais,
das leis, dos sãos, afiava
todo o porvir em rios
de ervas - mananciais do ritmo.
então dei a ponta do meu dedo ao
céu
e ele, em fluxo, retribuiu.
sopraram-me ao ouvido:
escreva nos bastidores do vivo.
e eu senti
a rasante do pássaro que vem me ver.
Júlia de Carvalho Hansen
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