Declaração de amor
Esta é uma confissão de amor: amo a língua
portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente
trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter subtilezas e de
reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam
transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua
portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve.
(…)
Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança da língua já feita.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança da língua já feita.
(…)
O que recebi de herança não me chega. Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.
O que recebi de herança não me chega. Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.
Clarice Lispector
Grande Clarice!
ResponderEliminarenorme! :)
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