Agora, não te escrevo
Agora, não te escrevo nada.
Fecho todas as páginas deste livro onde
não voltarás.
Fecho todas as cancelas que um dia abriste,
numa estação de palavras ternas.
Agora, não te abro a porta deste quarto com
jarras sem água,
com alucinantes paredes sem luz.
Digo apenas que ainda conheço os teus passos,
o teu vulto que empalidece sobre as quatro luas,
digo ao ver os anéis de âmbar e
prata
é como se nos teus dedos sem febre tudo se
parecesse ao terror das águias aprisionadas.
Não cantas,
não moves os lábios,
não me falas junto às fontes,
não te ergues como o sol que ainda bate
neste rosto inclinado, pouco a pouco mais
triste, a olhar para longe.
A alma, oh,
a alma vive na floresta branca, ao lado do anjo.
Emudeceste,
E no teu silêncio de pedra emudeceram as
paisagens do céu.
Nunca mais foi Verão.
Ainda me lembro dos cães que nunca vias
e não tinham nome,
e eram como se pensassem, como se amassem,
e, por amor perdidos,
procurassem as algas que secavam.
Assim é a minha vida.
Hoje, só os desertos me conhecem. Nada mais.
José Agostinho Baptista
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