A
luz de Lisboa
A luz
atravessa o quarto entre
as duas
janelas, e é sempre a mesma luz, embora
de um
lado seja o poente - onde está o sol, agora - e do outro
o
nascente - onde o sol já esteve. No quarto
juntam-se
poente e nascente, e é esta
luz que
confunde o olhar, que não sabe em que
hora se
situa a luz primeira. Então, olho a linha
que
percorre o espaço entre as duas janelas,
como se
não tivesse princípio nem fim; e
o que
faço é puxar essa linha para dentro
do
quarto, e enrolá-la, como se me
pudesse
servir dela para atar as duas extremidades
do dia ao
meio-dia, e deixar que o tempo fique
parado
entre duas janelas, a poente
e a
nascente, até que o fio se volte
a
desenrolar, e tudo
recomece.
Nuno Júdice
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