Dai-nos, meu
Deus, um pequeno absurdo quotidiano que seja,
que o
absurdo, mesmo em curtas doses,
defende da
melancolia e nós somos tão propensos a ela!
Se é verdade
o aforismo faca afia faca
(não sabemos
falar senão figuradamente
sinal de que
somos pouco capazes de abstracção).
Se faca afia
faca,
então que a
faca do absurdo
venha afiar
a faca da nossa embotada vontade,
venha
instalar-se sobre a lâmina do inesperado
e o dia a
dia será nosso e diferente.
Aflições?
Teremos muitas não haja dúvida.
Mas tudo
será melhor que este dia a dia.
Os povos
felizes não têm história, diz outro aforismo.
Mas nós não
queremos ser um povo feliz.
Para isso
bastam os suíços, os suecos, que sei eu?
Bom proveito
lhes faça!
Nós queremos
a maleita do suíno,
a noiva que
vê fugir o noivo,
a mulher que
vê fugir o marido,
o órfão que
é entregue à caridade pública,
o doente de
hospital ainda mais miserável que o hospital
onde está a
tremer, a um canto, e ainda ninguém lhe ligou nenhuma.
Nós queremos ser o aleijado nas ruas,
Nós queremos ser o aleijado nas ruas,
a pedir esmola, a esbardalhar-se
frente aos nossos olhos.
Queremos ser o pai desempregado que não sabe que Natal há-de dar aos seus.
Queremos ser o pai desempregado que não sabe que Natal há-de dar aos seus.
Garanti-nos,
meu Deus, um pequeno absurdo cada dia.
Um pequeno absurdo
às vezes chega para salvar.
Alexandre
O’Neill
que maravilha este poema o´neill! depois dele não são precisos mais contos de natal, obrigada, ele é O Conto...
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