Agora o
corpo é mais um barco que se solta.
Nele navegam
primeiro os olhos e os receios.
E só depois
a polpa dos dedos, à deriva, que
é quem faz o
sabor das ondas nesse mar.
Levamos-lhe
uma luz que é como uma promessa:
uma pequena
chama azul e inquieta que treme
dentro das mãos
e faz a boca abrir-se para
a espera. E
não sei o que longe da margem
ilumina
depois os nossos gestos: talvez
apenas a
pele prateada dos peixes, o fulgor
da lua sobre
a água como um gomo cheio
a desafiar
os lábios, os reflexos do frio
metal das âncoras
sob o olhar das estrelas.
Repara como
de repente ficou distante o cais
e o outro
barco amarrado ao sono da noite.
Esquece-o
para sempre. Agora, adormeçamos
simplesmente,
docemente, em casas de sal.
Maria do Rosário Pedreira
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