Espanta-espíritos
Amanhã tudo será pior
ainda, eu sei: o hábito, a inércia,
o sem remédio da vida – tão
pouco
haverá a salvar.
Por toda a cidade os desconhecidos
subirão outro degrau para o escuro
da noite, e a memória será talvez
um remorso:
aquela manhã de sol
na varanda, o espanta-espíritos
com peixes de alumínio num rosário
de contas profanas.
Ainda o tens? Ainda canta,
de madrugada, se o vento sopra
do mar?
Não importa. Foi sempre de menos
o muito que pedimos
e a parte que tivemos.
Rui Pires Cabral
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