17 junho 2012




Os desertos






Compraste comigo um livro sobre o nomadismo
sem te dares conta que era a voz do deserto
o que naquele fim de tarde se confiava a nós
na suavidade angulosa das nossas palavras
em que nem o vento nem a luz rude e triste já cadente
deixava pressentir nada de bom

há muito que vivíamos num oásis
de momentos e de arados
remexendo os nossos mundos mais perdidos
mas as areias nasciam em pleno dia
sobre a nudez das coisas arrasadas

a paisagem ia-se tornando mais árida, anunciando
a ilusão das dunas, a erosão dos trilhos
e o meu sofrimento era muito antigo
fundido na vertigem funda nunca terminada

quando me despedi de ti pressionando-te o braço
pensava em canela e outras especiarias
mas era a solidão pesada e errante do deserto
o que ardia a meus pés





José Manuel de Vasconcelos





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