As gaivotas não estão ausentes dos inventários mediterrânicos, quer vivam no mar ou na foz dos rios. De todas as aves que sobrevoam os navios e os acompanham nas suas viagens, elas são, sem dúvida, as que mais permanecem na memória. Também as gaivotas diferem umas das outras, mais do que parece à primeira vista. Afastadas dos estuários, lá para o interior das terras, onde se desvanecem as ligações com o mar, já não são as mesmas: são então pequenos guinchos fluviais que sobrevoam as pontes. Umas seguem os barcos quase por ócio, sem dar sinais de fome ou de voracidade, enquanto outras se mostram insistentes e glutonas. Ora vemos nelas uns simples pássaros que voam à roda das antenas, ora umas singulares companheiras de viagem. Há os que comprovam o seu insaciável apetite deitando-lhes restos de comida pela borda fora, e os que admiram a sua maneira de planar; uns interessam-se pelos fins, outros pelas linhas do seu voo. Raros são os que notam como as gaivotas afloram o mar quando ele está calmo ou agitado, com a ponta das asas ou do corpo, de pescoço esticado para a frente. Dantes, os marinheiros observavam ao entrar no porto as gaivotas que vinham ao seu encontro e delas tiravam presságios sobre o litoral a que acostavam, sobre os golfos onde lançavam ferro. Os laços que unem a tripulação às gaivotas constituem (será preciso lembrá-lo aqui?) um velho segredo, tanto do mar como da navegação, sobretudo no Mediterrâneo, onde é o mais antigo.
Predrag Matvejevitch
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