porn - an oral history
polly barton
ed. fitzcarraldo
polly barton, que conheço de muitas e excelentes traduções de livros japoneses, coloca interrogações: por que razão falar sobre pornografia permanece um tabu? quase nenhum adulto gosta de falar na sua experiência pessoal e tende a tecer opiniões em abstracto... porquê? este livro questiona a ausência de discussões abertas sobre o tema e, basicamente, é a transcrição de dezanove entrevistas a pessoas de idade, género e estado civil muito diferentes. hábitos, emoções, vergonha, culpa, desejo - tudo isso compõe a nossa relação com a pornografia e, lidos estes depoimentos fascinantes fica-se (talvez) com uma outra visão sobre o assunto.
spark
naoki matayoshi
ed. pushkin press
mais do que a história de dois comediantes que praticam manzai (uma espécie de stand-up comedy em dueto), esta é uma novela divertida - e por vezes crua e amarga - sobre os limites do humor e da amizade. ganhou o akutagawa de 2015.
tutankhamun
joyce tyldesley
ed. headline
a pessoa foi só uma - mas há (pelo menos) dois faraós com este nome. um é aquele cujo túmulo foi descoberto há cem anos e que, como nenhum outro, deu origem a mitos, lendas, maldições e fez da egiptologia muito daquilo que é actualmente. porém, há outro: aquele que viveu há mais de três mil anos e reinou inesperadamente no egipto. é sobre a vida deste último que a autora desvenda mistérios e propõe hipóteses, numa narrativa fascinante.
cinza, agulha, lápis e fosforozitos
robert walser
ed. assírio & alvim
é nestes "brevíssimos textos sobre quase nada" que damos conta de um facto simples: walser disse-nos quase tudo sobre a razão de ser da escrita.
o livro da patrícia
david-alexandre guéniot
ed. ghost
(por razões pessoais) é-me difícil falar deste livro, tão belo quanto triste.
melancholy I - II
jon fosse
ed. fitzcarraldo
foi a primeira destas duas novelas que definitivamente colocou o autor num pedestal elevado. partindo de uma narrativa ficcionada da vida do pintor lars hertervig, que pintou a natureza como poucos antes de ser internado como demente e morrer na miséria, jon fosse funde o monólogo interior com uma espécie de fluxo de consciência e mergulha nos pensamentos de um jovem artista à beira da loucura, primeiro como estudante de pintura em dusseldorf, depois como doente mental e, mais tarde, a sua invocação chega-nos por terceiros: um escritor que o quer reviver e uma sua irmã, também ela à beira do fim. é opressivo e desesperançado mas, sem dúvida, um marco literário.
the stasi poetry circle
philip oltermann
ed. faber & faber
estamos em 1982, na antiga alemanha de leste. a stasi, a célebre polícia secreta - convencida de que há escritores que podem estar a encriptar mensagens subversivas nos seus textos - decide treinar os seus homens, criando em berlim um círculo de poesia. estes homens, soldados e guardas do muro, reunem-se mensalmente e aprendem com escritores a escrever poesia. este é um relato verídico - a realidade suplanta sempre a ficção - baseado em depoimentos e entrevistas, uma espécie de policial literário cheio de espiões moldados em poetas e poetas a espiar colegas. a cantiga é uma arma? pfff, a poesia é mais certeira!