28 fevereiro 2023

 
 




leituras  de  fevereiro






















 

:: notas ::

 

nineteen eighty-four

george orwell

ed. alma books

 

li este livro quando ainda andava no liceu. após esta releitura da distopia do big brother, tantos anos depois posso afirmar: i’ve seen the future and it will be.

 


the secret life of books

tom mole

ed. elliott & thompson

 

lembro-me bem da primeira casa que visitei onde não havia livros. a decoração já de si era algo minimalista (e de bom gosto, diga-se), mas sem um único livro pareceu-me completamente despida. porque para mim os livros numa casa dizem muito sobre os moradores. e, claro, porque amo os livros, cheiro-os quando os abro, gosto de os tocar nas estantes e de os ver empilhados na mesa de cabeceira. são a única coisa que gosto de oferecer e colecciono-os, gosto de os ter por perto e recordo-os como familiares, embora saiba que há neles uma vida própria, de mim escondida e difícil de observar. estão na cama connosco, porém encerram sempre um segredo qualquer. este livro, com uma capa genial, fala-nos disso e diz-nos o que já sabíamos, ou suspeitávamos, ou até nunca imaginámos.



zeno’s conscience

italo svevo

ed. everyman’s library

 

releitura, sobretudo do primeiro e último capítulos - ambos com uma actualidade surpreendente. isto porque, entretanto, surgiu por aí uma nova reedição em acordês. vade retro.



o super-camões

joão pedro george

ed. dom quixote

 

rigorosa e despretensiosa não são adjectivos habitualmente conjugados, porém definem esta bela biografia de pessoa. um bom contraste com a recente obra de richard zenith - mas as duas juntas são seguramente o melhor retrato pessoano de sempre.

 


the catalogue of shipwrecked books

edward wilson-lee

ed. scribner

 

se há autores cativantes são os historiadores que sabem escrever. de wilson-lee tinha lido recentemente “a history of water”, uma magnífica biografia entrecruzada entre damião de góis e luís de camões, e desta vez estamos perante a extraordinária vida do filho do ‘descobridor’ das américas, hernando colón. este acompanhou o pai na sua última viagem às antilhas e, fascinado por mapas e livros, teve a ideia de perpetuar todo o conhecimento numa colecção a que dedicou o resto da sua vida. percorreu grande parte da europa, buscando e adquirindo não apenas livros e panfletos, mas também gravuras e imagens de todo o tipo. perdeu alguns em naufrágios mas, à data da sua morte, a sua ‘alexandria’ em sevilha contava mais de quinze mil volumes, provavelmente a maior biblioteca privada à época. fascinante.

 


the copenhagen trilogy

tove ditlevsen

ed. farrar, straus & giroux

 

reunião de três novelas autobiográficas (childhood, youth, dependency) que nos mostram a vida e obra desta escritora dinamarquesa, até há pouco quase ignorada. um relato magnético que nos torna parte do seu percurso, desde a infância num bairro pobre dos arredores de copenhaga até alcançar um certo renome com a publicação de poemas e novelas ao atingir a idade adulta. não é um retrato feliz e nota-se a vontade de contar uma verdade vista pelos seus olhos, por vezes até poética, mas quase sempre crua e incómoda, sobretudo na confissão sem subterfúgios da sua dependência de drogas, iniciada e mantida por um dos seus maridos. um livro horrivelmente belo.








26 fevereiro 2023




 

Poema

 

 

 


Um animal no inverno, 
uma planta na primavera,

um insecto no verão,

um pássaro no outono,

o resto do tempo sou uma mulher.

 

 



Vera Pavlova

  




21 fevereiro 2023

10 fevereiro 2023

 


 

Biografia

 

 

 


Lembro-me que sobre mim os adultos
disseram que tinha queda para a literatura

como se diz de alguém

que tem queda para a morbidez,

queda para a delinquência

ou para a toxicodependência.

 

Não se enganaram.

 

 

 



Cristina Peri Rossi