29 novembro 2019





Estão  podres  as  palavras




Estão podres as palavras – de passarem
por sórdidas mentiras de canalhas
que as usam ao revés como o carácter deles.
E podres de sonâmbulos os povos
ante a maldade à solta de que vivem
a paz quotidiana da injustiça.
Usá-las puras – como serão puras,
se caem no silêncio em que os mais puros
não sabem já onde a limpeza acaba
e a corrupção começa? Como serão puras
se logo a infâmia as cobre de seu cuspo?
Estão podres: e com elas apodrece o mundo
e se dissolve em lama a criação do homem
que só persiste em todos livremente
onde as palavras fiquem como torres
erguidas sexo de homens entre o céu e a terra.





Jorge de Sena





26 novembro 2019




[ e.f.e.m.é.r.i.d.e ]



miss anna mae bullock festeja
hoje oitenta risonhos outonos.
parabéns tina! & keep rockin'...









25 novembro 2019





regressei a um sítio onde seguramente não entrava
há mais de vinte anos. não me pareceu que tivesse
envelhecido bem mas, por outro lado, parece óbvio
reconhecer que já era velhíssimo quando nasceu.




[ pavilhão chinês ]





19 novembro 2019





agá  agá



e confesso que já pensei nisto a sério:
passar a assinar homero honorato ou
hermínia hungria ou hugo herrera ou
herculano herédia ou heitor horta ou
hélio hamburgo ou heloísa hilário ou
helena holanda ou henrique hogan ou
hortência hermano ou humberto harpa 
ou qualquer possível parelha de nome e
sobrenome ambos iniciados pela letra h   
para poder utilizar o acrónimo agá agá,
o qual, quando pensamos em herberto
helder ou hilda hilst, parece ser garantia
de talento certo e caudalosa veia poética





14 novembro 2019





d e s c u b r a
a s
s e t e
d i f e r e n ç a s :





entre estas duas catedrais góticas, uma feita pelo homem, outra pela natureza













08 novembro 2019





e, sem motivo aparente, vem do fundo perdido da memória aquele verso
you just picked up a hitcher, a prisoner of the white lines on the freeway










06 novembro 2019





Ella  y  Yo



Ella lee libros de yoga, de budismo, de numerología.
Yo leo poesía, teatro, ensayos, novelas, todo
lo que cae en mis manos.

Ella es vegetariana.
Yo, omnívoro.

Ella es disciplinada, ascética, creyente.
Yo, escéptico y perezoso.

Ella cree en la reencarnación de las almas.
Yo soy agnóstico.

Ella está segura.
Yo, no.

Ella es presente de indicativo.
Yo, condicional en mis mejores días
y en los peores pretérito
pluscuamperfecto de subjuntivo.

Ella es un hombre de acción.
Yo, una mujer confundida.

Ella quiere que yo cambie.
Yo, también.

Ella sabe lo que quiere y lo que necesita
y lo que quiero y necesito yo.
Yo sólo sé que no sé nada
pero no estoy muy seguro.

Ella es la luna de día.
Yo, un girasol en la noche.

Ella y yo, contra viento y marea,
nos amamos.



Juan Vicente Piqueras