17 janeiro 2012






Meu amor, agarra-me pela mão. Não me largues agora. Temo bem que se o fizeres, me perderei de mim.

Meu amor, segura-me pela cintura. Não a soltes um minuto. Receio que se isso acontecer, não saberei mais onde acabam os meus dias e começa a noite de não te ter aqui.

Meu amor, prende-me ao tronco do teu corpo. Não me desamarres nunca. Tenho medo que se o descurares, o engula o abismo de quando acordar de ti.

Meu amor, cose-me os lábios com botões de rosa. Não deixes de o fazer. Se os não abotoares agora à minha boca, é possível que murchem em todos os jardins.

Meu amor, sela-me os ouvidos numa gaiola de pássaro. Fala-me sempre. Não os abandones à sorte dos ruídos de um mundo exterior a mim.

Meu amor, cega-me os olhos com o sol verde dos teus. Não desvies o olhar de mim. É que pode acontecer que eu perca o norte de não me poder guiar por onde eles me olham e assim não consiga regressar a ti.

Meu amor, desfigura-me o nariz. Impede-o de respirar para além de ti. Os odores e os perfumes são como frutos que apetece sempre comer.

Meu amor, corta-me as mãos. Não as deixes escrever mais. Tudo o que te possam dizer são sombras de uma clarividência que já não possuo.

Meu amor, corta-me as mãos.





Esparsa





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