26 novembro 2017





Desejos




Como corpos formosos de mortos que não envelheceram
e que em pranto sepultaram em esplêndido mausoléu,
rosas na cabeça e jasmins a seus pés –
a isto se assemelham os desejos que passaram
sem se cumprir; sem merecer uma única
noite de prazer ou um luminoso amanhecer.





Konstantinos Kaváfis






23 novembro 2017









...i know that you say i get mean when i'm drinking,
but then again sometimes i get really sweet so what does it mean if i tell you to go fuck yourself or if i say that you're beautiful to me...







18 novembro 2017





lista de livros lidos em 2017 :




1 : strange weather in tokyo, hiromi kawakami, portobello books



2 : the book, keith houston, w. w. norton


3 : ver no escuro, cláudia r. sampaio, tinta-da-china   


4 : mil anos de esquecimento, afonso cruz, alfaguara


5 : oscar wilde, a certain genius, barbara belford, bloomsbury  


6 : oscar wilde, richard ellmann, penguin


7 : kitchen, banana yoshimoto, faber & faber



8 : la tentation de saint antoine, gustave flaubert, folio
 


9 : tres deseos (poesía reunida)amalia bautista, renacimiento


10 : early christian lives, carolinne white, penguin classics


11 : hyeronimus bosch: the complete worksstefan fischer, taschen


12 : the desert fathers: sayings of the early christian monksbenedicta ward, penguin classics


13 : poesía completa, alejandra pizarnik, lumen


14 : el asombroso viaje de pomponio flato, eduardo mendoza, booket


15 : sonetos de shakespeare, trad. vasco graça moura, quetzal


16 : the visiting privilege (collected short stories)joy williams, tuskar rock


17 : rashomon and seventeen other stories, ryunosuke akutagawa, penguin classics


18 : aves de incêndio, raquel serejo martins, poética


19 : a cup of sake beneath the cherry trees, yoshida kenkö, penguin classics


20 : a brecha, joão pedro porto, quetzal


21 : las tentaciones de lisboa, luis maría marina, trea 


22 : the book of tokyo (a city in short fiction)vv. aa., comma


23 : contra mim falo (poesia reunida), vasco gato, plural


24 : granta 9 :: comer e beber, vv. aa., tinta-da-china


25 : arrancar penas a um canto de cisne, luís quintais, assírio & alvim


26 : three tang dynasty poets, vv. aa.penguin classics


27 : enigma, jan morris, tinta-da-china


28 : men without women, haruki murakami, harvill secker


29 : librerías, jorge carrión, anagrama


30 : wabi sabi : the japanese art of impermanenceandrew juniper, tuttle


31 : uso particular (poemas escolhidos)rui knopfli, do lado esquerdo


32 : the old man of the moon, shen fu, penguin classics


33 : cuentos completos 1 (1945-1966)julio cortázar, debolsillo


34 : diane arbus : portrait of a photographerarthur lubow, ecco


35 : fifteen one-act plays, sam shepard, vintage


36 : mike tyson para principiantes (antologia poética)rui costaassírio & alvim


37 : the book of tea, kakuzo okakura, penguin classics


38 : nada tem já encanto (poemas escolhidos)rui knopflitinta-da-china


39 : the complete stories, leonora carrington, dorothyproject


40 : teatro vertical, manuel alberto vieira, livraria snob


41 : granta 10 :: revoluções, vv. aa., tinta-da-china


42 : uncommon type (some stories), tom hanks, william heinemann



43 : poems of the decade, vv. aa., forward worldwide


44 : ...





14 novembro 2017






a  imensidão  da  tua  nudez






o que eu queria mesmo era conseguir escrever um poema de amor
sobre o teu corpo, preencher a pele com tinta da china, não deixar
livre espaço algum, para que apenas fosse visível esse negro brilho
das palavras, afinal insuficientes perante a imensidão da tua nudez






10 novembro 2017






[ a cossoul pediu-me um cartaz para sábado ]









[da nota ao leitor]

(...) porque o que sabemos do tríptico é de facto muito pouco,
além da sua indesmentível assinatura: que em meados do séc. xvi fazia já parte da
colecção real portuguesa, embora certos estudos recentes apontem para uma entrada
bem mais tardia no acervo, sendo referido invariavelmente o nome de damião de góis 
como o responsável pela compra da obra; que d. fernando, esposo de d. maria ii,
 o mandou restaurar na alemanha; que apenas foi exibido pela primeira vez em mil 
oitocentos e noventa e cinco; e que há pouco mais de cem anos deixou de morar no 
inabitado palácio das necessidades, vindo renascer naquela galeria às janelas verdes.
 e, para a minha história, muito mais não era preciso saber. cedo desisti de alvitrar
motivos ditados pela lógica e fui delineando uma sequência de acontecimentos que,
apenas por não serem provadamente impossíveis, talvez pudessem ter ocorrido. e creio 
que o mesmo terão imaginado todos os que nos últimos quinhentos anos se renderam
ao fascínio daqueles três painéis de madeira de carvalho pintados a óleo. porque, no
fundo, não interessa a época nem o local onde nasceram, uma vez que, afirma-o com 
notável precisão alberto ruiz de samaniego no seu prefácio a las tentaciones de lisboa
“entender-me-ão aqueles que foram tentados”. e também porque, como nos sugere
luis maría marina na sua espécie de bússola infalível, orientada para a tentação das 
tentações, “cruza o portão de dois batentes que se abre às janelas verdes. compra uma
entrada. sobe os dois lances de escadas, quinze degraus de ida e quinze degraus de
volta. vira à direita. atravessa quatro salas (...) entra na sala número sessenta
e um. vira novamente à direita. respira. escuta com atenção como,
a partir de algum lugar oculto, um hidrógrafo marca
um ritmo regular. toma o seu pulso, a compasso
com o fluir do passado que não cessa, com
o tempo que se sucede eternamente
nas tentações de lisboa.
abre os olhos.”





07 novembro 2017






«Yo no creo en la revolución política, yo creo en la re-evolución poética. La poesía salvará al mundo, es decir, la belleza, porque todos los problemas son por fealdad.»



- Alejandro Jodorowsky





04 novembro 2017










a vontade de homenagear o quadro da minha vida e a percepção de que todos temos
algo em comum com oscar wilde, jheronimus van aken (dito bosch) e santo antão
levaram-me a escrever um livro que gostava de partilhar com quem passa por aqui.










02 novembro 2017






No início





No início
não sabemos
que não podemos tudo.
É o corpo que nos ensina

Agarramos com as mãos
a irresistível chama
e a queimadura do fogo
enche-nos de surpresa

Subimos à árvore maior
para voarmos como pássaros
e dói-nos mais não podermos
do que a perna partida

No início não sabemos
que entre o desejo e o corpo
há um desencontro
a eterna fome
a perpétua busca.






Pedro Santo Tirso