15 outubro 2017





mesinha  de  cabeceira






abandonada no passeio encontro uma mesinha de cabeceira. silenciosa,
a madrugada observa-me a remexer na pequena gaveta. lá dentro, uma
certidão de nascimento autenticada, um certificado de habilitações, um
requerimento antigo em papel selado, cópias de análises clínicas e até
o inevitável curriculum vitae. alguém rejeitou os registos de uma vida.
e assim ponho-me a escrever poemas inábeis sobre a incerteza da noite,
porque o teu rosto parece mais nítido na ausência de luz, como acontece
com as estrelas já mortas, que contra o céu escuro ainda vão brilhando,
cintilantes de promessas jamais cumpridas. e só na manhã seguinte me
apercebo de que os documentos não tinham o meu nome. nem o teu.








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