17 dezembro 2015







Cidade





Do miradouro viam-se as minguantes luzes
da misericórdia – um simulacro de treva
no obscuro novembro da cidade. Um céu
longínquo respirava pelo grave vinco
dos telhados, por estreitas ruas
que guardam o eco das nossas vidas,
o incalculável regresso.

Será meu confidente o veleiro vento
vogando pela copa dos ulmeiros,
as mortas folhas de um suave novembro;
a poalha de cinza sobre o rio; três
ou quatro aves de que agora não saberei
dizer o nome, porque o mundo muda
pelo cinzento requebro das suas asas.

Um requiem de sinos tece o emblema
deste dia – lábios que se perderam
na treva húmida dos jardins; um
relâmpago pelo imaginado novembro
do teu nome, quando a garoa lateja
à ilharga do sol-pôr acortinando
a ruiva despedida dos amantes.

Deixa-te findar sobre esta estendida
cadeira, pela tardia hora em que os búzios
se espalham por entre as mãos do negro,
na adivinhação do longínquo dia de amanhã.







José Luiz Tavares






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