01 setembro 2015







fábula  a  bordo





a verdade é que a bordo tudo se torna mais turvo


embarco neste navio sem saber que é o teu corpo
e escrevo de cor atlas e mapas náuticos só para mim


sei que sou um náufrago voluntário no teu mar sem fim
e me perco em cada vaga tua, como o vento na espuma
que a ondulação do teu corpo revive nesta maré nossa


anda, escreve-me uma carta de amor numa carta de marear
guarda-a bem dentro de um envelope feito de pano de vela
e manda-ma num cofre escondido no porão de uma velha nau
ou então nesse convés cintilante do teu corpo de veleiro nu


e faz-me um soneto em verso salgado por todo esse teu oceano
um daqueles que me põem o coração pequenino, onde há velas
e caravelas que descobrem caminhos marítimos para âncoras
porque bem sabes que eu apenas tenho medo de me afundar
e não ter lugar no salva-vidas deste navio que é o teu corpo







5 comentários:

  1. Escrever uma carta de amor numa carta de marear pode causar prejuízos ao nível da orientação náutica... Mas há que correr riscos. ;)
    Parabéns por esta fábula tão bonita, José luís!

    (E se eu roubasse um dia destes?!)

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  2. Uma fábula destas vale por mil!
    Lindíssima!

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