27 julho 2015






um velho azul de elmore james, recordando aquela sua slide-guitar e o inconfundível bottle-neck



Well I'm standin' at the crossroads,

With my head hung down and cryin'

Well I was lookin' for my baby,

And I know she’s not around


I work hard for my baby,

And she treats me like a slave

Well she was be tired of livin',

I'll put her six feet in the grave


Well I'm standin' at the crossroads,

And my baby's not around

Well I began to wonder,

If this is Elmore's second down



I'm standin' here waitin' baby,

With my heart right in my hand

I'm lookin' for my baby,

And she's out with another man









Arte poética




Tu lês este poema. E para quê?
Que procuras tu nele? O movimento
dos mesmos lábios, sombra que se vê
cair sobre as palavras, o tão lento
bafo animal pela atmosfera fria
ou talvez, junto a um rio, esta viagem
que ignoramos e cerca a noite e o dia
com outra face? A metáfora, a imagem?

Lê o poema, escuta a própria voz
dele, que não é minha, e só existe em nós.






Fernando Guimarães






25 julho 2015




[febre de sábado à noite]




I don’t want to feel all cooped up
I feel like I’m on a chain
I got my ride all souped up
We’re never coming back again
Time it don’t mean nothing
Money means even less
Don’t bring nothin baby
You’re better then all the rest
I wanna go get lost

When you wear that real tight sweater
You know I can’t resist
It’s been that way forever baby
Ever since we kissed
Roll down all the windows
Turn up Wolfman Jack
Please, please love me tender
Ain’t nothin wrong with that
Let’s go get lost
I wanna go get lost

Whatever that they told you about me
Well all of it’s true
You’re never gonna be with out me baby
I’m never gonna be without you
Top it off, fill it with high test
Think about it what cha gonna tell your boss?
And get lost
I just wanna get lost

All night long…





24 julho 2015





Carta de navegação





Talvez além do que tu vês
não esteja nada
nem a alada criatura com que sonhas
sequer a sombra da sombra de uma sombra

Talvez nisso que vês só haja o espelho
de um desejo sem rosto e sem esperança
que toda a vida (às vezes) seja apenas
esse deserto crescendo à tua volta

Aprende a não amar o amor
a nada querer
não desejar o desejo
nada ter.






Bernardo Pinto de Almeida













[campo das cebolas]





23 julho 2015






Cet amour




Cet amour 
Si violent 
Si fragile 
Si tendre 
Si désespéré 
Cet amour 
Beau comme le jour 
Et mauvais comme le temps 
Quand le temps est mauvais 
Cet amour si vrai 
Cet amour si beau 
Si heureux 
Si joyeux 
Et si dérisoire 
Tremblant de peur comme un enfant dans le noir 
Et si sûr de lui 
Comme un homme tranquille au milieu de la nuit 
Cet amour qui faisait peur aux autres 
Qui les faisait parler 
Qui les faisait blémir 
Cet amour guetté 
Parce que nous le guettions 
Traqué blessé piétiné achevé nié oublié 
Parce que nous l'avons traqué blessé piétiné achevé nié oublié 
Cet amour tout entier 
Si vivant encore 
Et tout ensoleillé 
C'est le tien 
C'est le mien 
Celui qui a été 
Cette chose toujours nouvelles 
Et qui n'a pas changé 
Aussi vraie qu'une plante 
Aussi tremblante qu'un oiseau 
Aussi chaude aussi vivante que l'été 
Nous pouvons tous les deux 
Aller et revenir 
Nous pouvons oublier 
Et puis nous rendormir 
Nous réveiller souffrir vieillir 
Nous endormir encore 
Rêver à la mort 
Nous éveiller sourire et rire 
Et rajeunir 
Notre amour reste là 
Têtu comme une bourrique 
Vivant comme le désir 
Cruel comme la mémoire 
Bête comme les regrets 
Tendre comme le souvenir 
Froid comme le marbre 
Beau comme le jour 
Fragile comme un enfant 
Il nous regarde en souriant 
Et il nous parle sans rien dire 
Et moi j'écoute en tremblant 
Et je crie 
Je crie pour toi 
Je crie pour moi 
Je te supplie 
Pour toi pour moi et pour tous ceux qui s'aiment 
Et qui se sont aimés 
Oui je lui crie 
Pour toi pour moi et pour tous les autres 
Que je ne connais pas 
Reste là 
Là où tu es 
Là où tu étais autrefois 
Reste là 
Ne bouge pas 
Ne t'en va pas 
Nous qui sommes aimés 
Nous t'avons oublié 
Toi ne nous oublie pas 
Nous n'avions que toi sur la terre 
Ne nous laisse pas devenir froids 
Beaucoup plus loin toujours 
Et n'importe où 
Donne-nous signe de vie 
Beaucoup plus tard au coin d'un bois 
Dans la forêt de la mémoire 
Surgis soudain 
Tends-nous la main 
Et sauve-nous.






Jacques Prévert













la blanche et la noire
félix valloton






21 julho 2015





fábula  da  noite  cá  dentro





a melancolia desceu sobre mim como o escuro desta noite à beira-rio
e a tua memória, outrora gravada a ferro em pedra, esvai-se esvai-se
enquanto a chuva cai sobre a saudade de um tempo de suave recordação


se todas as gotas que já caíram se pudessem esquecer talvez te reinventasse,
talvez a tua imagem não fosse assim difusa e diluída como estas lágrimas,
e estas esferas de sal caíssem e rolassem e seguissem o rio mesmo até à foz


mas não. embaciado como o respirar condensado nos vidros enregelados,
vejo-te desaparecer na sombra dos candeeiros que iluminaram este momento,
porque desponta o dia lá fora mas volta a cair de novo a noite cá dentro














golconde
rené magritte





20 julho 2015





este é um dos grandes azuis de marion walter jacobs, e um bom exemplo 
da sua peculiar abordagem à harmónica como instrumento solista.



Gone and left me
Left me here to cry
Know I love her
Know she's my desire

Came home this mornin’
'Bout half past four
Found that note
Lyin' on my floor

"Goin' away and leave you
You just don't know."
Heard some bad talk
Somethin' that you said

Come on back, baby
Honey, please don't go
Well, I love you
You'll never know

My kind-a baby
You know it's so
I could tell you
You know it ain't no joke

Come on back, baby
Don't do me wrong
You know I love you
Please, come back home
Come on back home






19 julho 2015






não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito!
não há direito! já perdi o freud em 2013 e vou a viena daqui a uma semana e vou perder o meu querido cornell! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito!
não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito! não há direito!


Kunsthistorisches Museum: Joseph Cornell: Wanderlust













Soneto da separação




De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente






Vinicius de Moraes





18 julho 2015






num jantar que proporcionou recordar música que já não se ouvia "há qu'anos", 
recordei esta coisa boa de monsieur navarre, a que sabe sempre bem retornar.
















[alto dos moinhos]






17 julho 2015





Esta areia fina




Não sei
se o que chamam amor é este apaziguamento.
Não sei se comias fogo. Tuas abelhas
voam agora em círculos tranquilos.
Mães serenam seus filhos no ventre,
não sei se o que enfim chamam
amor é esta areia fina.

Agora estamos um dentro do outro,
fazemos longas visitas deslumbradas
porque «o nosso prazer lembra um rio vagaroso
no meio de juncos ao cair da tarde.»

As palavras tornam-se esquivas. Com o silêncio
falaríamos melhor de tudo isto.
Não sei se o que chamam amor
é a cama desfeita o sol fugindo,
uma vontade louca de beber
a grandes goles a noite entorpecente.

Com o silêncio, o silêncio sem nome:
morremos a meio do filme
simples, calada, delicadamente.
Eras tu, amor? - Era eu, era eu!

Um barco junto à margem. E cegonhas.






Fernando Assis Pacheco













[padrão dos descobrimentos - belém]






16 julho 2015





ainda o inesquecível concerto de ontem: nunca, nunca mesmo, apostaria que fosse possível ouvir uma canção de bowie… 
(mas se o fizesse tinha ganho porque os lambchop, falsettos afinados e tudo, terminaram com uma grande cover disto):



They pulled in just behind the bridge
He lays her down, he frowns
"Gee my life's a funny thing, am I still too young?"
He kissed her then and there
She took his ring, took his babies
It took him minutes, took her nowhere
Heaven knows, she'd have taken anything, but

[chorus]: All night
She wants the young American
Young American, young American, she wants the young American
All right She wants the young American

Scanning life through the picture window
She finds the slinky vagabond
He coughs as he passes her Ford Mustang, but
Heaven forbid, she'll take anything
But the freak, and his type, all for nothing
He misses a step and cuts his hand, but
Showing nothing, he swoops like a song
She cries "Where have all Papa's heroes gone?"

[chorus]

All the way from Washington
Her bread-winner begs off the bathroom floor
We live for just these twenty years
Do we have to die for the fifty more?"

[chorus]

Do you remember, your President Nixon?
Do you remember, the bills you have to pay?
Or even yesterday?

Have been the un-American?
Just you and your idol sing falsetto
'bout leather, leather everywhere, and
Not a myth left from the ghetto
Well, well, well, would you carry a razor
In case, just in case of depression?
Sit on your hands on a bus of survivors
Blushing at all the afro-Sheeners
Ain't that close to love?
Well, ain't that poster love?
Well, it ain't that Barbie doll
Her hearts have been broken just like you

[chorus]

You ain't a pimp and you ain't a hustler
A pimp's got a Cadi and a lady got a Chrysler
Black's got respect, and white's got his soul train
Mama's got cramps, and look at your hands ache
(I heard the news today, oh boy)
I got a suite and you got defeat
Ain't there a man who can say no more?
And, ain't there a woman I can sock on the jaw?
And, ain't there a child I can hold without judging?
Ain't there a pen that will write before they die?
Ain't you proud that you've still got faces?
Ain't there one damn song that can make me break down and cry?











object (abeilles)
joseph cornell





15 julho 2015

14 julho 2015





fábula  do  coração  inquebrável




algo se desfizera dentro de si. sentiu-se um destroço. em lágrimas publicou
um anúncio no jornal: “procura-se coração inquebrável. dão-se alvíssaras”
no dia seguinte, ao abrir as folhas do mesmo diário, a notícia ao lado era:
“encontrou-se coração partido. entrega-se a quem provar pertencer-lhe”