31 julho 2013








recado







ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte

vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer - vai por esse campo
de crateras extintas - vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite

deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo - deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração - ouve-me

que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna - o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite

não esqueças o navio carregado de lumes
de desejos em poeira - não esqueças o ouro
o marfim - os sessenta comprimidos letais
ao pequeno-almoço










Al Berto





















barbara bel geddes
by joe wolhandler








30 julho 2013









não é por estarmos sós no deserto 
mas aquele par de velhos carris metálicos 
é a única companhia do comboio solitário




Lonesome train, ride all day
Since i lost my woman, i lost my way


Mr conductor, where is this train bound
Is it headed up, is it headed down

Lucky for me, i'm on the sunny side
Since i lost my woman, it's a lonesome ride

Lonesome train, ride all day
Since i lost my woman, i lost my way


















Não gosto tanto
de livros
como Mallarmé
parece que gostava
eu não sou um livro
e quando me dizem
gosto muito dos seus livros
gostava de poder dizer
como o poeta Cesariny
olha
eu gostava
é que tu gostasses de mim
os livros não são feitos
de carne e osso
e quando tenho
vontade de chorar
abrir um livro
não me chega
preciso de um abraço
mas graças a Deus
o mundo não é um livro
e o acaso não existe
no entanto gosto muito
de livros
e acredito na Ressurreição
dos livros
e acredito que no Céu
haja bibliotecas
e se possa ler e escrever









Adília Lopes











[ lê-se melhor aqui ]

29 julho 2013













untitled (pharmacy)
joseph cornell



















o azul de hoje é um velho azul: o de sempre, quando alguém parte




Have you heard that rumour that's going around
You got it made, way across town
It's the same old story, tell me where does it end
Yes, I heard the news, it's the same old blues again


When I wrote you a letter, you must have read it wrong
I stood at your doorway, but you was gone
I took a lot of courage and let the telephone ring
It's the same old blues, same old blues again


When you give me the business, you know I get a mind
'Cause I've got a lot of patience and I've got a lot of time
It's the same old story, tell me where does it end
It's the same old blues, same old blues again


I'm gonna find me a mountain, I'm gonna hide out
I ain't talking to you and I ain't coming out
Yeah, I heard that rumour, tell me where does it end
It's the same old blues, same old blues again 





















[ parque eduardo vii ]










28 julho 2013









dia de festa. há alguns dias foi sir jagger, mas hoje celebram-se os setenta risonhos verões de mr. richard wright.
uma prenda para todos os que gostam de pink floyd: um belíssimo solo de piano, que veio a ser "us and them", a inesquecível balada que ainda se ouve no lado escuro da lua.
muitos parabéns rick!




















mesmo no calor do deserto
haverá talvez uma aragem:
e tu serás sempre essa brisa




I got that green light babe
I gotta keep movin' on
I got that green light babe
I gotta keep movin' on
I might go up to Califonia
Might go down to Georgia
I don't know.

You can call me the breeze
I keep blowing down the road
You can call me the breeze
I keep blowing down the road
I ain't got me nobody
I ain't carryin' me no load

Ain't no changin' the weather
Ain't no changin' me
Ain't no changin' the weather
Ain't no changin' me
I ain't hidin' from nobody
Nobody's hidin' fom me.

You can call me the breeze
I keep blowing down the road
You can call me the breeze
I keep blowing down the road
I ain't got me nobody
I ain't carryin' me no load.









27 julho 2013













john weldon cale
(1938-2013...(

estou demasiado triste para falar dele. 
mas tinha um pressentimento qualquer
quando escrevi isto e isto...

















Homenagem a Cesário Verde





Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um último cigarro
um feijão branco em sangue e rolas cozidas

Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no país!











Mário Cesariny





















[ chiado ]










26 julho 2013









O sono retirou-se do meu corpo e as cigarras
atormentam as minhas noites. Depois de teres
partido, os lençóis da cama são como limos frios
que se agarram à pele. Porém, se me levanto,
não faço mais do que arrastar a solidão pela casa;

talvez procure ainda um gesto teu nos braços
do silêncio, como um pombo cego a debicar
as sombras na única praça deserta da cidade –

o amor nunca aprendeu a ler nas linhas da mão.









Maria do Rosário Pedreira





















four lane road
edward hopper



















edward and jo hopper
arnold newman








25 julho 2013






esqueçam o contexto e o diálogo que se segue.
não pretem atenção ao vago discurso amoroso.
ignorem até uma intuída e mal-disfarçada lascívia...




porque o que o jovem thomas alan quer mesmo
perguntar é apenas: "desculpe, a menina valsa?" 




They say you're seeing someone, you're wearing his ring
They say you laughed when you heard my name
They say he takes you dancing, he holds you so near
They say he'll buy you anything
Tell me am I foolish, I don't believe these stories
And I'll be coming home soon
Louise, Louise, if it's true
Tell it to me

I know, you will not see me, but I know you have a daughter
And I hear she has my eyes
They say she calls him "father", and he's proud of her
And even believes all of your lies
But for all your faithless beauty, I'd give all my tomorrows
And if you're still thinking of me
Louise, Louise, if it's true
Tell it to me

















amor

(fragmento)





vim andando de longe, pensando, pensando

é para os rochedos entre o mar que o amor se vai

quando acaba?

ou é na vida sem lógica sentimental dos peixes?

uma casa em que se tirassem as paredes e o ar caísse

sobre nós?









Júlia de Carvalho Hansen




















la vague
gustave courbet










24 julho 2013











recordações... e jazz. no próximo dia 3 vou (ou)ver o john zorn ao meu querido e sempre saudoso anfiteatro ao ar livre da gulbenkian, não só pela música mas também pela exibição simultânea de um filme de joseph cornell, para o qual foi escrita a música.
e pus-me a pensar no meu primeiro "jazz em agosto", em 1985, com um elenco de luxo: dave holland, terje rypdall, pinho vargas e a arkestra de sun ra... e depois recordei o superlativo concerto de jan garbarek em 1987 - e a surpresa que foi ouvir "hasta siempre" saído daquele sax, numa memória que nunca se apaga.



(palavras para quê?)

















Yo amo
la piel que suda
instantánea
diferenciada
de otra piel
respirada

Yo amo
el espesor
de los músculos
que forman
el latido
el sentido
de las formas
mudas silenciosas

Escucho
tu voz










Marina Cedro























[um desejo chamado eléctrico]










23 julho 2013







d e s c u b r a
a s
s e t e
d i f e r e n ç a s :





esta canção do canadiano tranquilo, como gosto de lhe chamar, deve ter sido das primeiras que ouvi e gostei. faz parte do célebre album "harvest", gravado em 1972 com os stray gators. mas neil young já a tocava ao vivo pelo menos um ano antes. descubra as sete diferenças entre as duas versões:





a) em estúdio, acompanhado:




b) em palco, abandonado:




Old man look at my life,
I'm a lot like you were.
Old man look at my life,
I'm a lot like you were.

Old man look at my life,
Twenty four
and there's so much more
Live alone in a paradise
That makes me think of two.

Love lost, such a cost,
Give me things
that don't get lost.
Like a coin that won't get tossed
Rolling home to you.

Old man take a look at my life
I'm a lot like you
I need someone to love me
the whole day through
Ah, one look in my eyes
and you can tell that's true.

Lullabies, look in your eyes,
Run around the same old town.
Doesn't mean that much to me
To mean that much to you.

I've been first and last
Look at how the time goes past.
But I'm all alone at last.
Rolling home to you.

Old man take a look at my life
I'm a lot like you
I need someone to love me
the whole day through
Ah, one look in my eyes
and you can tell that's true.

Old man look at my life,
I'm a lot like you were.
Old man look at my life,
I'm a lot like you were.