28 agosto 2012











acredito que uma canção pode ter um poder curativo qualquer, creio que pode salvar alguém ou um momento.
esta é uma canção recente de kurt wagner mas sempre que a ouço sinto que há algo dentro de mim que se modifica.
quem me dera saber exactamente o quê e para quê.



Took the Christmas lights
Off the front porch
February 31st
A band mate was in New Orleans
My soul mate was on the coast
After all it takes for us
2B2

There are missionaries on a beachhead
On our television screen
And I swear it looks like England
Yeah, I think it's England
And the dogs they bark at no one
And we do the best we can
2B2

I don't want to go to sleep
When I'm hungry
I don't want to wake up
When I'm stoned
Too
2B2

It was good to talk to you while we're cooking
Sounds like we're making the same thing
One man cooks with powder
The other cooks with stones
2B2








27 agosto 2012









Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
E a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.










Alberto Caeiro





















janelas de lisboa



















desaparecido precocemente aos trinta e oito anos, j. b. lenoir é autor de inúmeros azuis que se tornaram standards.
foi mesmo baptizado com o nome próprio de "j. b." e nunca se saberá o que os seus pais pretendiam com aquelas iniciais.
gosto de pensar que poderia ser "just blues".



I never will go back to Alabama, that is not the place for me
You know they killed my sister and my brother,
and the whole world let them peoples go down there free

I never will love Alabama, Alabama seem to never have loved poor me
Oh God I wish you would rise up one day,
lead my peoples to the land of pea'

My brother was taken up for my mother, and a police officer shot him down
I can't help but to sit down and cry sometime,
think about how my poor brother lost his life

Alabama, Alabama, why you wanna be so mean
You got my people behind a barbwire fence,
now you tryin' to take my freedom away from me

























la luzerne, saint-denis

georges seurat










26 agosto 2012








...and the evening demands a jazzy tune:



Sun come up it was blue and gold
ever since I put your picture
in a frame.

I come calling in my Sunday best
ever since I put your picture
in a frame

I'm gonna love you
till the wheels come off
oh yeah

I love you baby and I always will
ever since I put your picture
in a frame

















Laberinto







No habrá nunca una puerta. Estás adentro
y el alcázar abarca el universo
y no tiene ni anverso ni reverso
ni externo muro ni secreto centro.

No esperes que el rigor de tu camino
que tercamente se bifurca en otro,
que tercamente se bifurca en otro,
tendrá fin. Es de hierro tu destino

como tu juez. No aguardes la embestida
del toro que es un hombre y cuya extraña
forma plural da horror a la maraña

de interminable piedra entretejida.
No existe. Nada esperes. Ni siquiera
en el negro crepúsculo la fiera.









Jorge Luis Borges





















doca do jardim do tabaco












24 agosto 2012










fábulas de lisboa








xxxiv.  espaço fábulas








( lê-se melhor aqui )

















estava o corto maltese a dizer que talvez pudesse ser guardador de um farol - e uma memória muito antiga regressou.
escondida na banda sonora de "a clockwork orange" (magistral trabalho de walter, mais tarde wendy, carlos) estava esta canção de erika eigen. 
talvez seja isso, casar com um(a) faroleiro(a)...



I want to marry a lighthouse keeper
And keep him company
I want to marry a lighthouse keeper
And live by the side of the sea

I'll polish his lamps by the light of day
So the ships at night can find their way
I want to marry a lighthouse keeper
Won't that be okay?

We'll take walks along the moonlit bay
Maybe find a treasure, too
I'd love living in a lighthouse
How 'bout you?

I dream of living in a lighthouse, baby,
Every single day
I dream of living in a lighthouse
The white one by the bay

So if you want to make my dreams come true
You'll be a lighthouse keeper, too
We could live in a lighthouse
The white one by the bay
Won't that be okay?
















Um céu e nada mais








Um céu e nada mais - que só um temos,
como neste sistema: só um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul - como de tecto.
E o seu número tal, que deslumbrados
eram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tão de ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levíssimo toque de mistério.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovão que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caído.
Mas, de verdade: natural fenómeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
implodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abóbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais - que nada temos,
que não seja esta angústia de
mortais (e a maldição da rima,
já agora, a invadir poema em alto
risco), e a dança no trapézio
proibido, sem rede, deus, ou lei,
nem música de dança, nem sequer
inocência de criança, amor,
nem inocência. Um céu e nada mais.











Ana Luísa Amaral


























chop suey

edward hopper












23 agosto 2012












...and the evening demands a jazzy tune:




EINSTEIN HAD ONE, SO DID EDISON
I'VE GOT ONE TOO
I HAVE A DREAM, AND MY DREAM IS YOU

MAKING YOU A PART OF MY LIFE
IT WILL COME TRUE
I HAVE A DREAM, AND MY DREAM IS YOU

IN MY REVERIE, YOUR KISSES ARE SO FINE
THAT'S WHY I'M CONCENTRATING ON MAKING YOU MINE

EINSTEIN HAD ONE, SO DID EDISON
I'VE GOT ONE TOO
I HAVE A DREAM, AND MY DREAM IS YOU

WHEN I WAKE EACH DAY, IF I COULD SEE YOUR FACE
THEN I'D HAVE DONE MY PART TO MAKE THIS WORLD A BETTER PLACE

EINSTEIN HAD ONE, SO DID EDISON
I'VE GOT ONE TOO
I HAVE A DREAM, AND MY DREAM IS YOU
I HAVE A DREAM, AND MY DREAM IS YOU






















alcainça






















... e entretanto eugene festeja hoje, cantando à chuva, os seus cem risonhos verões ...























As palavras aproximam:
prendem-soltam
são montanhas de espuma
que se faz-desfaz
na areia da fala


Soltam freios
abrem clareiras no medo
fazem pausa na aflição


Ou então não:
                        matam
          afogam
                        separam definitivamente


Amando muito muito
ficamos sem palavras










Ana Hatherly




















e, enquanto o mundo não acaba, um pouco de céu na terra...















22 agosto 2012



















Nas estantes os livros ficam 
(até se dispersarem ou desfazerem) 
enquanto tudo 
passa. O pó acumula-se 
e depois de limpo 
torna a acumular-se 
no cimo das lombadas. 
Quando a cidade está suja 
(obras, carros, poeiras) 
o pó é mais negro e por vezes 
espesso. Os livros ficam, 
valem mais que tudo, 
mas apesar do amor 
(amor das coisas mudas 
que sussurram) 
e do cuidado doméstico 
fica sempre, em baixo, 
do lado oposto à lombada, 
uma pequena marca negra 
do pó nas páginas. 
A marca faz parte dos livros. 
Estão marcados. Nós também. 












Pedro Mexia





















o senhor karl-heinz stockhausen festeja hoje oitenta e quatro imortais verões.
parece que ninguém o vê desde dezembro de dois mil e sete, eu sei, mas são pessoas menos atentas.
deixo aqui um excerto de "michaels reise um die erde", do ciclo "licht", cinquenta minutos de pura magia. saudades...















21 agosto 2012













jardim da parada



















d e s c u b r a
a s
s e t e
d i f e r e n ç a s :








a)



b)




After all the jacks are in their boxes,
and the clowns have all gone to bed,
you can hear happiness staggering on down the street,
footprints dress in red.

And the wind whispers Mary.

A broom is drearily sweeping
up the broken pieces of yesterday's life.
Somewhere a Queen is weeping,
somewhere a King has no wife.

And the wind it cries Mary.

The traffic lights they turn blue tomorrow
And shine their emptiness down on my bed,
The tiny island sags downstream
'Cos the life that they lived is dead.

And the wind screams Mary.

Will the wind ever remember
The names it has blown in the past,
And with this crutch, its old age and its wisdom
It whispers, "No, this will be the last."

And The Wind Cries Mary.






[ este singelo passatempo é dedicado à memória de scott mckenzie e à sua inabalável fé no flower power ]