31 março 2012






fábulas de lisboa




xiii. as calçadas



( lê-se melhor aqui )










Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.


Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.


Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar


a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.






Joaquim Pessoa













rua da rosa





30 março 2012







[ porque este menino cumpre hoje sessenta e sete risonhas translações solares ]


parabéns eric patrick!










Lua de papel





Se eu cantasse o amor sem resultado ou causa,
seria mais sensata: chegava-me uma lua de papel,
um par de braços lisos, conformados


Se eu cantasse o amor sem causa ou resultado,
tinha muito mais paz: fingida em luas-cheias,
seria mais sensata e decerto poeta bem melhor


Assim o que me resta é lua cheia a trans-
bordar de tridimensional. A paz a falhar toda
e eu resolvida em causa a insistir papel. E amor.






Ana Luísa Amaral















passeig de grácia





29 março 2012






"A abstinência é uma boa coisa, desde que praticada com moderação."




Millôr Fernandes











também reparei que ainda não citei qualquer canção brasileira, porque na verdade não é um género de que goste muito, sobretudo da música actual...
mas há uma excepção gloriosa: a bossa nova, com aquela sua atmosfera de tranquilo remanso tropical, tão bem retratada por vinicius de moraes, tom jobim e joão gilberto.
uma das minhas canções preferidas é esta, a do pato & seu quarteto-maravilha.
e desta, acreditem ou não, até sei a letra de cor - e desafino-a muitas vezes.




O pato vinha cantando alegremente, quém, quém
Quando um marreco sorridente pediu
Para entrar também no samba, no samba, no samba

O ganso gostou da dupla e fez também quém, quém, quém
Olhou pro cisne e disse assim "vem, vem"
Que um quarteto ficará bem, muito bom, muito bem

Na beira da lagoa foram ensaiar
Para começar o tico-tico no fubá
A voz do pato era mesmo um desacato
Jogo de cena com o ganso era mato
Mas eu gostei do final quando caíram n'água
E ensaiando o vocal
Quém, quém, quém, quém







and now... the million dollar question:












28 março 2012






Cama




Podia ser uma cama aberta no horizonte
e os teus cabelos num poente incendiado.
Podia ser o teu sexo num cume de monte,
e os teus seios despidos sobre este prado.


A mão que esconde mais do que oferece,
os olhos de presa dominando o caçador.
E os teus lábios que murmuram a prece
de quem só reza no instante do amor.


E se falasse dos teus olhos, dos teus braços
desse corpo em que me perco e te ganho,
não mais acabaria o que tem de acabar;


uma respiração de suspiros e de abraços
neste canto em que és tudo o que eu tenho,
nesta viagem em que não tem fundo o mar.





Nuno Júdice














casa da música










reparei hoje que ainda aqui não referi os lambchop, seguramente um dos grupos com mais canções da minha vida.
nascidos em nashville, sempre ao redor de kurt wagner, combinam magistralmente o country com a pop e o easy-listening e são capazes de pequenas pérolas mais-que-perfeitas, como este "listen"... ouçam...




When things blink just right

Like they're blinking here tonight

From the corner of my eye

They came to be



Tell your trouble to

Someone stuck here just like you

Sucking in the smoke

Like it's going out of style



And i'll listen to what you got to say

You said it any way to me

And i'll listen specially at work

It's really not a chore to me



So put me in a bag

Or bury me in rags

The lady upstairs,

She makes me strong



Can't make it to the bar

Can't make it to the bed

Caught and confused

You give it up for this



Now i'll listen
 to what you got to say

You said it anyway, though you're not, not too sure

You'll listen
 because it means that much to you

You're everything i do, or see



They may not work it out

They may not work it out








27 março 2012








pegasus
jean-michel basquiat









Too Big to Fail




Como pode um investimento tão fiável

garantir este rendimento crescente, numa

diária distribuição de beijos e outras mais-
-valias, ainda por cima livres de impostos?


Embora confiasse na tua competência
para criar valor, confesso que não esperava
tanto quando decidi aplicar nos teus títulos

sensíveis os meus parcos activos emocionais.


O mais estranho, no mundo actual, é ser este

um negócio sem perdedores, aparentemente
imune ao nervosismo das tuas acções

ou às flutuações do meu comércio libidinal.


O meu único receio é que despertemos

a inveja dos deuses, no Olimpo de Bruxelas,

e que Mercado, o monstruoso titã, decida

baixar para lixo o rating da nossa relação,


deixando-nos sem crédito na praça romanesca

e em default o coração. Mas não sejamos

pessimistas. Aliás, ambos sabemos que Cupido

nos ampara com sua mão invisível. E mesmo


que entrássemos ambos em depressão, tenho
a certeza de que o Estado português nos daria
todo o apoio, concordando que um amor como

este é simplesmente demasiado grande para falir.





José Miguel Silva













cais da rocha





26 março 2012






este é um azul muito especial, ideal para ganhar apostas... pergunta-se: os pink floyd já gravaram blues?
depois mostra-se este "seamus" e ganha-se facilmente, porque quase ninguém conhece o grupo dos tempos do album "meddle", anterior aos discos que o popularizaram.
hoje é uma mera curiosidade mas, por ser um azul improvável, ainda tem piada.




I was in the kitchen
Seamus, that's the dog, was outside
Well I was in the kitchen
Seamus, my old hound, was outside
Well you know the sun was sinking slowly
And my old hound-dog sat right down and cried




improvável era também a possibilidade deste azul ser tocado ao vivo mas, logo no ano seguinte, durante as gravações do célebre concerto em pompeia, o grupo conheceu uma cadela borzoi, pertença de um circo, que cantava azuis... claro, era forçoso convidá-la...
para quem não acredita aqui fica o registo, com o sr. waters na guitarra, o sr. gilmour na harmónica, o falecido sr. wright no microfone e a inolvidável mademoiselle nobs a "roubar" o palco!







{ para a anita }









janelas de lisboa






25 março 2012






esta é uma canção estranha, a minha preferida dos extintos blur de damon albarn, porque em rigor não é mais que um gospel, mas também é muito mais que um gospel... talvez por ser tocado por um grupo pop.
lembro-me bem de ter ouvido isto pela primeira vez e de não ter acreditado que eram os blur e de nem sequer ter gostado muito.
actualmente lembro-me dela sempre que me sinto algo melancólico. depois passa-me...




Tender is the night
Lying by your side
Tender is the touch
Of someone that you love too much
Tender is the day
The demons go away
Lord I need to find
Someone who can heal my mind

Come on, come on, come on Get through it
Come on, come on, come on Love’s the greatest thing
That we have
I’m waiting for that feeling to come
Oh my baby Oh my baby
Oh why Oh my

Tender is the ghost
The ghost I love the most
Hiding from the sun
Waiting for the night to come
Tender is my heart
For screwing up my life
Lord I need to find
Someone who can heal my mind

Come on, come on, come on Get through it
Come on, come on, come on Love’s the greatest thing
That we have
I’m waiting for that feeling to come
Oh my baby Oh my baby
Oh why Oh my

Tender is the night
Lying by your side
Tender is the touch
Of someone that you love too much
Tender is my heart you know
For screwing up my life
Oh lord I need to find
Someone who can heal my mind

Come on, come on, come on Get through it
Come on, come on, come on Love’s the greatest thing
That we have
I’m waiting for that feeling to come
Oh my baby Oh my baby
Oh why Oh my











que o meu coração esteja sempre aberto às pequenas
aves que são os segredos da vida
o que quer que cantem é melhor do que conhecer
e se os homens não as ouvem estão velhos


que o meu pensamento caminhe pelo faminto
e destemido e sedento e servil
e mesmo que seja domingo que eu me engane
pois sempre que os homens têm razão não são jovens


e que eu não faça nada de útil
e te ame muito mais do que verdadeiramente
nunca houve ninguém tão louco que não conseguisse
chamar a si todo o céu com um sorriso





e. e. cummings






{ lê-se, vê-se e ouve-se muito melhor aqui }















monsanto













24 março 2012






fábulas de lisboa



xii. jardim das amoreiras




( lê-se melhor aqui )










Blue (Moby Dick)
Jackson Pollock











Uma baleia vê os homens




Sempre tão atarefados, e com longas barbatanas que agitam com frequência. E como são pouco redondos, sem a majestosidade das formas acabadas e suficientes, mas com uma pequena cabeça móvel onde parece concentrar-se toda a sua estranha vida. Chegam deslizando sobre o mar, quase como se fossem pássaros, e infligem a morte com fragilidade e graciosa ferocidade. Permanecem longo tempo em silêncio, mas depois entre eles gritam com fúria repentina, com um amontoado de sons que quase não varia e aos quais falta a perfeição dos nossos sons essenciais: chamamento, amor, pranto de luto. E como deve ser penoso o seu amar-se: e áspero, quase brusco, imediato, sem uma macia capa de gordura, favorecido pela sua natureza filiforme que não prevê a heróica dificuldade da união nem os magníficos e ternos esforços para a realizar.

Não gostam da água e têm medo dela, e não se percebe porque a frequentam. Também eles andam em bandos mas não levam fêmeas e adivinha-se que elas estão algures, mas são sempre invisíveis. Às vezes cantam, mas só para si, e o seu canto não é um chamamento, mas uma forma de lamento angustiado. Cansam-se depressa, e quando cai a noite estendem-se sobre as pequenas ilhas que os transportam e talvez adormeçam ou olhem para a lua. Vão-se embora deslizando em silêncio e percebe-se que são tristes.





Antonio Tabucchi












são julião da barra





23 março 2012






os new order são uma espécie de descendência e legado dos saudosos joy division de ian curtis.
nunca gostei muito deles em geral mas devo confessar que adoro esta canção, muito pela letra (que tem tudo a ver connosco, não é?) e também por ser uma melodia que tem aquela indefinível propriedade de conseguir alegrar-me instantaneamente quando a ouço.
nunca consegui perceber porquê e nem ninguém me explica a razão de isto acontecer com certas canções.
além disso, neste caso, o clip é irresistível...


Some people get up at the break of day
Gotta go to work before it gets too late
Sitting in a car and driving down the road
It ain't the way it has to be

But that's what you do to earn your daily wage
That's the kind of world that we're living in today
Isn't where you wanna be
And isn't what you wanna do

Just give me one more day
Give me another night
I need a second chance
This time I'll get it right

I'll say it one last time
I've got to let you know
I've got to change your mind
I'll never let you go

You've got to look at life the way it oughta be
Looking at the stars from underneath the tree
There's a world inside and a world out there
With that tv you just don't care

They've got violence, wars and killing too
All shrunk down in a two-foot tube
But out there the world is a beautiful place
With mountains, lakes and the human race
And this is where I wanna be
And this is what I wanna do

Just give me one more day
Give me another night
I need a second chance
This time I'll get it right

I'll say it one last time
I've got to let you know
I've got to change your mind
I'll never let you go

Just give me one more chance
Give me another night
With just one more day
Maybe we'll get it right

I'll say it one last time
I've got to let you know
If I could change your mind
I'll never let you go











Entregámo-nos
um ao outro
dentro dos lençóis
brancos
à tarde
e agora sabemos
e não sabemos
um do outro
escrevemo-nos
escrevemos




Adília Lopes







22 março 2012









morning sun
edward hopper











Se me comovesse o amor



Se me comovesse o amor como me comove
a morte dos que amei, eu viveria feliz. Observo
as figueiras, a sombra dos muros, o jasmineiro
em que ficou gravada a tua mão, e deixo o dia


caminhar por entre veredas, caminhos perto do rio.
Se me comovessem os teus passos entre os outros,
os que se perdem nas ruas, os que abandonam
a casa e seguem o seu destino, eu saberia reconhecer


o sinal que ninguém encontra, o medo que ninguém
comove. Vejo-te regressar do deserto, atravessar
os templos, iluminar as varandas, chegar tarde.


Por isso não me procures, não me encontres,
não me deixes, não me conheças. Dá-me apenas
o pão, a palavra, as coisas possíveis. De longe.





Francisco José Viegas












janelas de lisboa











ainda me lembro: ouvi na rádio que os smashing pumpkins tinham um trabalho novo, disseram que se chamava «melancholy and the infinite sadness» e recordo ter logo pensado “com um título assim só pode ser um grande disco”. não me enganei...
e continha ainda vários bónus extra: ser duplo, o título incluir o divertido trocadilho da «melancholy» ser afinal «mellon collie» e, entre as inúmeras boas canções presentes, conter pelo menos duas que se vieram a tornar canções da minha vida. esta é uma delas.



By starlight I'll kiss you
And promise to be your one and only
I'll make you feel happy
And leave you to be lost in mine
And where will we go, what will we do?
Soon said I, will know
Dead eyes, are you just like me?
Cause her eyes were as vacant as the seas
Dead eyes, are you just like me?
And all along, we knew we'd carry on
Just to belong
By starlight I know you
As lovely as a wish granted true
My life has been empty, my life has been untrue
And does she really know, who I really am?
Does she really know me at last
Dead eyes, are you just like me?







21 março 2012








sun setting
j. m. w. turner










Uma voz na pedra




Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.






António Ramos Rosa






20 março 2012








jardins gulbenkian






{porque hoje é hoje}







You can never hold back spring
You can be sure that I will never
Stop believing
The blushing rose that will climb
Spring ahead or fall behind
Winter dreams the same dream
Every time
You can never hold back spring
Even though you've lost your way
The world keeps dreaming of spring

So close your eyes
Open you heart
To the one who's dreaming of you
You can never hold back spring
Remember everything that spring
Can bring
Baby you can never hold back spring





19 março 2012






não há nada a fazer, adoro os azuis de taj mahal.
filho de mãe cantora de gospel e pai pianista de jazz, nascido no harlem em nova-iorque, o menino henry saint clair fredericks podia ter sido qualquer outra coisa no mundo da música, mas preferiu desde cedo cantar azuis e ouvir world music.
diz-se que adoptou o nome por sonhar muito com gandhi e com a índia, mas isso não sei...
apenas sei que os seus azuis são únicos e diferentes de todos os outros e que os ouço desde sempre.



I went upstairs to pack my leavin' trunk
I ain't see no blues whiskey made me sloppy drunk
I ain't never seen no whiskey the blues made me sloppy drunk
I'm going back to Memphis babe where I'll have much better luck

Look out mama you know you asked me to be your king
She said "You kiddin' man if you want it keep it hid
But please don't let my husband my main man catch you here
Please don't let my main man my husband catch you here"

The blues are mushed up into three different ways
One said "Go" the other two said "Stay"
I woke up this mornin' with the blues three different ways
You know one say "Go baby I want to hang up"
The other two said "Stay"

Wake up mama I got something to tell you
You know I'm a man who loves to sing the blues
Now you got to wake up baby mama now
I got something I got something to tell you
Well you know I'm the man I'm the man
Oh yes and I love to sing the blues



















um desejo chamado eléctrico










Braile





Leio o amor no livro
da tua pele; demoro-me em cada
sílaba, no sulco macio
das vogais, num breve obstáculo
de consoantes, em que os meus dedos
penetram, até chegarem
ao fundo dos sentidos. Desfolho
as páginas que o teu desejo me abre,
ouvindo o murmúrio de um roçar
de palavras que se
juntam, como corpos, no abraço
de cada frase. E chego ao fim
para voltar ao princípio, decorando
o que já sei, e é sempre novo
quando o leio na tua pele.






Nuno Júdice






18 março 2012







(a palavra como imagem)

ou

uma palavra vale mil imagens
















jardim do príncipe real










sempre achei piada ao jazz europeu, e a um certo renascimento que tem havido, sobretudo em itália, desde que ocorreu essa aproximação à música pop.
pela voz de lucia minetti, esta é uma canção de nicola conte que recupera um certo ambiente do cool jazz, mas que o transforma em algo mais.
nunca se passa muito tempo sem que tenha de voltar a ouvir isto: a versão original



e a do clip



you are my sunshine
my only sunshine
you are my sunshine

(don’t take my sunshine away)















passeig del born







15 março 2012






fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre
sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber
que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.
o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte
de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.
o amor é ter medo e querer morrer.




José Luís Peixoto












tapada das necessidades









ouvi virginia astley pela primeira vez em casa dos meus primos, algures no milénio passado, no excelente “from gardens where we feel secure”: uma revelação na altura…
e ainda agora aquela atmosfera onírica e campestre, com as vozes dos pássaros, do vento nas árvores, ruídos dos animais e o ranger de um portão, exerce sobre mim um fascínio enorme.
hoje voltou a chover e, sem saber porquê, recordei esses jardins em que me sentia seguro.









{ para a rosa }

14 março 2012






era assim:


queres?
queres algo?
queres desejar?
desejas querer?
desejas-me?
desejas querer-me?
queres desejar-me?
queres querer-me?


queres que te deseje?
desejas que te queira?
queres que te queira?


quanto me
queres?
quanto me
desejas?


ah quanto te quero
quando te quero
quando me queres...






Ana Hatherly







{ lê-se, vê-se e ouve-se muito melhor aqui }









sintra










"It strikes me that this may be one of the differences between youth and age:
when we are young, we invent different futures for ourselves;
when we are old, we invent different pasts for others."



Julian Barnes













largo do barão de quintela





13 março 2012






lançado em 1971, o album "pawn hearts" dos van der graaf generator contém duas pérolas de brilho perpétuo e uma delas é "man erg", seguramente uma das primeiras canções da minha vida.
oscilando entre uma balada e um tema sinfónico e com um grande poema como letra, quarenta anos depois (quando o sr. hammill resolve volta e meia reunir a banda de sempre) continua a ser inquietante ouvi-la, sobretudo quando tocada ao vivo pelos (agora) sexagenários...

 

The killer lives inside me: yes, I can feel him move.
Sometimes he's lightly sleeping
in the quiet of his room,
but then his eyes will rise and stare through mine;
he'll speak my words and slice my mind inside.
Yes the killer lives.
Angels live inside me: I can feel them smile...
Their presence strokes
and soothes the tempest in my mind
and their love can heal the wounds
that I have wrought.
They watch me as I go to fall
- well, I know I shall be caught,
while the angels live.

How can I be free?
How can I get help?
Am I really me?
Am I someone else?

But stalking in my cloisters hang the acolytes
of gloom
and Death's Head throws his cloak into
the corner of my room
and I am doomed...
But laughing in my courtyard play the pranksters
of my youth
and solemn, waiting Old Man
in the gables of the roof:
he tells me truth...

And I too, live inside me and very often
don't know who I am:
I know I'm not a hero, well,
I hope that I'm not damned.
I'm just a man, and killers, angels,
all are these:
Dictators, saviours, refugees in war and peace
as long as Man lives...

I'm just a man, and killers, angels,
all are these:
Dictators, saviours, refugees...














cais de alcântara










Dr. Bayard vou-me suicidar com Vicks
viver é sobreviver a uma criança constipada
a Aspirina não cura as dores da alma
a literatura inclusa não basta
ingerirei também rebuçados do Dr. Bentes
e pastilhas Valda.




Adília Lopes






12 março 2012






este é um dos grandes azuis dos doors, uma espécie de inquilino permanente numa suite do “morrison hotel”.

[pudéssemos todos ser sempre espiões na casa do amor…]



I'm a spy in the house of love
I know the dream, that you're dreamin' of
I know the word that you long to hear
I know your deepest, secret fear
I'm a spy in the house of love
I know the dream, that you're dreamin' of
I know the word that you long to hear
I know your deepest, secret fear
I know everything
Everything you do
Everywhere you go
Everyone you know

I'm a spy in the house of love
I know the dream, that you're dreamin' of
I know the word that you long to hear
I know your deepest, secret fear
I know your deepest, secret fear
I know your deepest, secret fear
I'm a spy, I can see
What you do
And I know













janelas de lisboa




11 março 2012






"Friendship is far more tragic than love. It lasts longer."




Oscar Wilde














cais da rocha











... e depois também há aquelas canções que conhecemos desde sempre, mas que foi preciso alguém aparecer a reinventá-las para que passassem a ser da nossa vida.
o melhor exemplo é este original de danny whitten, dos crazy horse de neil young:


a que nunca liguei muito, nem quando rod stewart o popularizou, nem mesmo quando os everything but the girl o tornaram num mega-hit no final dos anos oitenta.
no entanto, há meia dúzia de anos, a norueguesa inger marie gundersen captou exactamente a essência desta canção e, com a emoção da sua voz e um arranjo tão elegante quanto cool, fez com que se tornasse mais uma das da minha vida, até pela associação a certos momentos.
mas não quero falar disso...



I can tell by your eyes
That you've probably been crying forever
And the stars in the sky don't mean nothing
To you, they're a mirror.

I don't wanna talk about it
How you've broke my heart
If I stay here just a little bit longer
If I stay, won't you listen to my heart?
Oh, my heart...

If I stand all alone
Will the shadows hide the colors of my heart?
Blue for the tears, black for the night's fears
The stars in the sky don't mean nothing to you
They're a mirror.

I don't wanna talk about it
how you've broke my heart.
But if I stay here just a little bit longer,
If I stay here, won't you listen to my heart?
Oh, my heart...








10 março 2012





Com a tua letra




Porque eu amo-te, quer dizer, estou atento
às coisas regulares e irregulares do mundo.
Ou também: eu envio o amor
sob a forma de muitos olhos e ouvidos
a explorar, a conhecer o mundo.


Porque eu amo-te, isto é, eu dou cabo
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra.





Fernando Assis Pacheco















janelas de lisboa